terça-feira, 18 de junho de 2013

44 - ACONTECERAM AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA ERA DIGITAL NO BRASIL. E NINGUÉM ESTAVA PREPARADO.


A garotada foi pras ruas na última semana, depois de 20 anos de ausência. (Lembra dos cara-pintadas?) Fizeram manifestações contra o aumento nas tarifas do transporte coletivo. O Governo não estava preparado: nem o Federal, nem o Estadual, nem o Municipal. E baixaram o pau na garotada, como faziam com a gente no fim dos anos 60, começo dos 70, na época da ditadura. Autoridades, de todos  os níveis, aplaudiram a ação da polícia.  
A mídia não estava preparada: nem TV, nem jornais, nem revistas, nem rádio. Aplaudiram a ação da polícia contra os baderneiros radicais que paravam as cidades e depredavam o patrimônio publico. (Na nossa época,  nos chamavam de baderneiros radicais e comunistas.) Esse era o combustível necessário para as manifestações crescerem, como cresceram.
O número de gente na rua aumentou exponencialmente. E as Autoridades perceberam que o buraco era mais embaixo. Não se bate impunemente em garotos universitários por volta dos 20 anos, muitos deles filhos da classe média. Mães ficam furiosas, amigos logo ficam solidários. Mais ainda: cacetetes, bombas de gás e balas de borracha atingiram todos indistintamente, até os jornalistas que faziam a cobertura dos eventos nas ruas. A mídia também apanhou.

(Uma explicação: esse blog não se propõe a entrar na praia da análise política. Mas conversar sobre comunicação, marketing e tecnologia. Vamos nos manter então nesse campo, sem fazer juizo de valor das ações e reações polítcas.)
Moral da história, quando perceberam o tamanho da encrenca que compraram, logo as senhoras Autoridades mudaram de opinião. Rapidamente. A mídia também. Mas continua todo mundo sem entender o que está acontecendo. Governos procurando lideranças que não existem, mídia  chamando os especialistas de plantão para dar sua explicação.
Me parece claro que todo esse movimento tem duas causas globalizadas: primeiro, a crise do modelo de desenvolvimento capitalista atual, de crescer a qualquer custo, que levou o planeta a esta situação que todos estamos vivendo. O sonho acabou. E os brasileiros estão percebendo que não basta copiar os chamados países ricos, porque eles estão numa enrascada pior que a nossa.
E a lógica das Redes Sociais, que criam movimentos horizontais – grupos interagindo, sem liderança de uma só pessoa. Foi assim na Primavera Árabe, está sendo assim nos movimentos europeus. Ainda tem a facilidade das novas tecnologias para espalhar idéias e convocar pessoas para manifestacões. Comunicacão democrática, ao alcance de todas as pessoas.
Acrescente nessa receita a situação nacional. Partidos que perderam o pé da realidade e não representam mais ninguém (a grande maioria dos manifestantes e da população brasileira não se sente representada por nenhum deles), corrupção, mensalão, partidos de aluguel, e por aí vai. As pessoas buscam as ruas porque não têm com quem falar. Autoridades decidem sozinhas o que acham melhor para todos, ninguém ouve mais ninguém.
E a mídia vai nessa onda. Tenta ser  moderna e critica governos que por sua vez se dizem perseguidos por ela. Mas quando surge uma coisa diferente, ninguém percebe o que está acontecendo e ficam todos do mesmo lado. (Daí os slogans contra a grande mídia nas manifestações.) Depois mudam todos para o outro lado.
Vamos combinar que o mundo está passando por grandes mudanças. Nada mais será como antes, concorda?
Mudaram os negócios, as grandes empresas de hoje estão ligadas às novas tecnologias, as empresas tradicionais tiveram que adotar valores das novas tecnologias em suas práticas diárias. Mudaram as comunicações, quem tenta continuar como antes, apostando em jornais e revistas de papel, na TV aberta com uma via só de comunicação, está perdendo espaço para os formatos digitais –dos tablets, dos celulares inteligentes, até mesmo dos computadores, porque não? Que trouxeram rapidez e interação para as nossas vidas.
Se tudo está mudando, porque a política não tem que mudar? Como diria um homem de marketing, o modelo de negócio dos partidos politicos –centralizador, pessoal, excludente, autoritário- está com os dias contados. Pode demorar mais, pode demorar menos, mas vai ter que mudar para se adaptar a este novo mundo. Mais democrático, participativo, interativo, baseado em valores e não em ambições pessoais, em interesses corporativos.
Resta saber se os partidos tradicionais vão ter visão e humildade para acompanhar estas mudanças. Se vão aprender a ouvir as pessoas que elas dizem representar. Se vão de fato tentar ser representantes do povo. Ou se novos partidos vão surgir como essa nova visão de mundo e de política.
Essa garotada sabe das coisas. Estão (em São Paulo pelo menos, não sei se têm ligação nacional) focados hoje em segurar o aumento do transporte coletivo. Mas sabem que as pessoas não vão para a rua só por isso. Vão sim atrás de respeito e dignidade. Por um país mais sério e mais justo. E que o movimento não vai parar só por aí. Vamos aprender um pouco com eles.
Porque, como você vê, tudo isso é um grande problema de comunicação.