A imagem que mais marcou 2011 apareceu nas
capas das revistas do fim do ano: o mundo inteiro protesta. Começou com a
primavera árabe, em países que viviam sob ditaduras antigas, onde –de repente,
sem aviso prévio, sem lideranças formais- as pessoas foram para as ruas pedir
dignidade. Liberdade, abaixo o governo tirano, valores básicos assim.
O movimento correu de um país para outro,
como se respondesse a um planejamento prévio, e pegou todo mundo de surpresa.
Inclusive os ditadores, que nunca esperavam movimentos tão fortes contra eles. Revoluções
espontâneas nascidas nos papos da internet, que era por onde as pessoas se
comunicavam. E onde combinaram de ir juntos para a rua.
O mundo se maravilhou com aqueles jovens
corajosos que resolveram enfrentar tudo, para mudar o destino de seus povos e
países. Liberdade para eles, o mundo inteiro apoiou.
Até aí tudo bem. Tunísia, Egito, Líbia,
Síria, não faz mais sentido governos como esses no mundo de hoje. Mas depois o
movimento atravessou os mares e foi estourar na Europa em crise –Grécia,
Espanha, Itália, um por um foram entrando na era do protesto.
Depois o movimento atravessou o oceano e
foi estourar em Wall Street. Somos 99% e não aceitamos o que está acontecendo
aqui, o que está acontecendo no mundo. Como é que ocupações que faziam sentido
na Praça Tahir começaram a acontecer em Wall Street? E porque uma ocupação
pacífica nos EUA incomoda tanto os governos locais?
A origem de todos estes movimentos e a
forma deles se comunicarem com as pessoas e com o mundo é a internet. Redes
sociais, que servem para você falar do seu dia a dia com os amigos, também servem para você fazer sua crítica ou
gozação política. Servem para discutir e divulgar um movimento que um grupo de
pessoas começou.
Porque só discutimos os problemas aqui na
internet? Porque parece que não existe mais espaço na política formal para o
que as pessoas pensam e querem. Aconteceu uma ruptura entre as pessoas e os políticos
profissionais, que parecem cada vez mais defender interesses que não são os
nossos. Os partidos não têm mais valores, causas, estão apenas preocupados com
ganhar o poder. E depois manter.
Isso vale para o Brasil, mas também
parece valer para os outros países do mundo. Quem levou o mundo para a crise que
todos estão vivendo, senão os políticos e governos que realizaram um formato de
crescimento apoiado em valores econômicos que estouraram no nosso colo?
No Brasil, assuntos muito sérios para o
nosso futuro, como o Código Florestal, precisaram da internet para serem
levados a sério. Na mãos dos políticos ia ser resolvido sem a participação de
ninguém, muito menos dos cientistas –quem mais deviam ser ouvidos num assunto
tão técnico quanto esse. Porque os políticos ativos neste projeto tinham
interesses para defender. Interesses que não necessariamente eram os nossos.
Precisou um grupo de 150 entidades da
sociedade civil se juntar e convocar os brasileiros para a luta, na internet,
para equilibrar um pouco o jogo. Que continua mais forte do lado de lá, onde
estão os interesses que os políticos defendem. Do lado de cá, do lado dos
cientistas e das pessoas que se importam com o futuro do Brasil, só alguns
políticos isolados. Nenhum partido importante se meteu nessa briga.
Como vai ser a política do futuro? Todo
mundo discutindo todos os assuntos e depois votando pela internet? Governos abertos,
na internet, para ouvir as pessoas todo dia e não só na hora das eleições?
Políticos conectados e preocupados em representar de verdade o que as pessoas
que votaram neles pensa?
Seja qual for o caminho, tudo vai passar
por aqui. Afinal, a internet é o que representa melhor o que cada pessoa pensa,
o que todas as pessoas pensam. E tudo vai depender do que a gente fizer hoje na
internet: discutindo, cobrando, participando, assinando embaixo. Ou então vamos
continuar aqui apenas gozando políticos e governos, gozando de nós mesmos.
PS: O STF acaba de proibir políticos de
fazer propaganda política pelo twitter, antes do chamado período eleitoral –quando
TV e rádio têm os programas políticos gratuitos. É o sistema reforçando a
cultura da política com hora marcada. Só discuta política na hora das eleições.
Gostei!
ResponderExcluirGostei!
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