sábado, 25 de dezembro de 2010

9- ELEIÇÕES 2010: TECNOLOGIA NOTA 5.

Não pretendo escrever aqui só sobre o iPad e sua relação com a mídia impressa. É que os tablets são a grande novidade que a tecnologia nos trouxe em 2010.  E como jornais e revistas  estão em cima do muro, sem saber direito como encarar essa e outras mudanças que vão ter pela frente, é um prato cheio para quem quer discutir o assunto. Vou continuar a série tablets, que deixa bem claro (mais ainda que a internet no computador) os caminhos que a tecnologia abre para o mundo da comunicação. Mas vou falar de outros assuntos também.

No balanço de 2010, não posso deixar de falar do uso da internet na campanha eleitoral que acabamos de viver. Que todo mundo do meio apostava que seria a campanha eleitoral da internet no Brasil, como foi a campanha do Obama nos EUA.

Acabou sendo a mesma internet de sempre: sites mal desenhados e poluídos (cheios de informações que não interessam ao eleitor), tentativas de interação não completadas (seções tipo participe da campanha, sem uma organização de ações  realmente planejada), muita ação receptiva (estamos aqui, nosso candidato é o bom, você que nos procure), poucas tentativas de realmente procurar e conversar com o eleitor (muito poucas ações realmente profissionais em redes sociais).

Por isso ficou fácil criticar. Todo mundo desceu a lenha dizendo que a internet ainda é elitista, que atinge muito pouca gente no Brasil, por isso não teve tanta importância na eleição. Nada disso. Quem acredita que internet é elitista não tem visto os números do crescimento desta mídia no país. Se você incluir os celulares, a ação das pessoas nas redes sociais via internet móvel, aí então esse número cresce bastante mesmo. Leia a coluna do meu amigo Ethevaldo Siqueira no Estadão ou o seu blog– ele vive atualizando estes números.

O que aconteceu realmente é que nenhuma campanha foi profissional o bastante para aproveitar a internet em todo seu potencial. E punto finale. Quem melhor trabalhou a internet, na minha opinião, foi a campanha da Marina. Talvez porque precisasse mais, por causa do pouco tempo na TV. Talvez porque tinha um profissional do meio, encabeçando a tarefa. Resultado é que ela cresceu e virou fenômeno eleitoral baseada na internet. Parabéns para a equipe da Marina que leva nota 7 –ainda não fez tudo o que podia.

Mas, deixando a análise técnica de lado (que não é o meu forte), o que interessa mesmo é que a grande maioria dos políticos se acha tão importante e tão popular (temos vários exemplos, não é?) que se bastam a si mesmos. Não dão a menor importância para uma assessoria de comunicação profissional e permanente. Aí chega na véspera da eleição e contratam um marqueteiro que tem que fazer milagres, já que ninguém muda a imagem de uma pessoa em dois ou três meses. (não estou aqui livrando a cara de quem não fez boa campanha).

Também ainda não entenderam que o mais importante de tudo é defender uma causa, um conjunto de idéias, que motive seus eleitores. Isso é ser um líder: ter idéias próprias e lutar por elas. O resto, TV ou internet, é apenas a forma de comunicar essas idéias.

Aí vão enfrentar uma máquina de comunicação ambulante que é o Lula, que faz campanha eleitoral as 24 horas de todo os dias de sua vida. E que tem uma causa forte, goste você ou não. Que tem carisma. E que ainda mantém um grupo de profissionais trabalhando sua comunicação permanentemente. Que começou a fazer campanha eleitoral oito anos atrás, sem nenhuma oposição para rebater.  Que resultado você esperava? 

O Obama começou seu trabalho na internet dois anos antes das eleições, pelo que eu soube. Uma ação interativa programada depende de um banco de dados que demora algum tempo pra ser montado e operacionalizado. Aí você começa a agir para organizar as informações, segmentar, entender quem são aquelas pessoas listadas ali. Começa então a arregimentar quem vai participar mesmo, distribuir tarefas diferentes para cada grupo. Para quando chegar perto da eleição você estar em ponto de bala.

Isso é o que a internet pode fazer de mais importante numa eleição. Mobilizar pessoas para trabalhar ao seu lado na campanha, em todo o país, alimentando este exército voluntário de informações, distribuindo prêmios emocionais para quem participa. Isso é o que o Obama fez e que foi tão inovador que ganhou prêmios como case de comunicação em todo o mundo.

Usar  internet apenas como veículo de comunicação (e não de interação) é só fazer metade do trabalho. Por isso dei nota 5, que já foi bom demais em muitos casos. Não basta só manter um twitter para se mostrar político moderninho. Tem que ter mais abertura para reconhecer a importância de um trabalho profissional de comunicação continuado. Pensando na próxima eleição. Que está logo ali.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

8- NO CALENDÁRIO DA TECNOLOGIA, 2010 FOI O ANO DO IPAD.

Poderia ter sido o ano dos tablets. Porque nada mudou mais a vida das pessoas, este ano, que um iPad na mão. E depois de todo seu sucesso inicial, vários fabricantes prometeram concorrência. Só saiu o Galaxy, da Samsung. Menorzinho, mais fácil de carregar, com direito a TV digital, 2 câmeras, funciona como telefone, sistema Android. A turma que conheço e trabalha com tecnologia adora o Android. Dão a entender, nas entrelinhas, que iPad é coisa de mulherzinha. No Android eles podem mexer.

Confesso que sinto falta de uma câmera no iPad para ligar no skype mostrando a cara. Mas como não entendo de tecnologia, acho os Apps (aplicativos do iPad e do iPhone) uma maravilha. E o grande diferencial da Apple.

Com o aplicativo de um jornal como a Folha, dá para ler o jornal no iPad com uma cara completamente diferente, mais gostosa e mais prática, do que a gente lê na internet. Pena que Estadão e O Globo não entenderam isso ainda e ficam replicando o jornal de papel no tablet –ninguém agüenta esperar o download daquelas páginas grandes e depois ficar aumentando as letras para ler. Acho que quem faz isso nunca usou um iPad.

Dá gosto ver as fotos bem feitas, com acabamento de primeira. Quem aproveita bem esse efeito é o The New York Times, que valoriza boas fotografias e bons fotógrafos fazendo matérias fotográficas – que são matéria não porque, necessariamente, o assunto é importante. Mas porque as fotos são bonitas.

Com os apps de revistas, você vê a sua preferida de um novo jeito, é uma nova experiência de comunicação. Fotos 360, animações, gráficos que aparecem quando você toca, filmes, sons, um mundo de novas possibilidades. O número de Veja que comemorou a chegada oficial do iPad no Brasil foi uma festa de efeitos especiais. Achei demais da conta, pro meu gosto pessoal. Mas reconheço que deixaram bem claro que você tinha uma nova tecnologia nas mãos e que daqui para a frente tudo será possível.

Para os anunciantes, acabou a barreira entre mídia escrita e eletrônica. As duas se fundiram na mídia digital e viraram uma coisa só. Eles podem veicular seu filme na página escolhida do jornal ou da revista, do mesmo jeito que na novela de TV. E podem fazer outras coisas que nem na TV é possível.

Os filmes também ficam impecáveis pela qualidade da tela. Pena que no Brasil ainda não tem aluguel de filme na internet a preços aceitáveis. O itunes, por exemplo, não vende nem aluga filme aqui. Então você tem que apelar para a pirataria ou ver filmes educacionais e palestras do TED, que são ótimas.

Em apps como o Flipboard (apontado como um dos tem-que-ter) você lê/vê seu twiter ou facebook de uma forma elegante e muito mais bonita. Falo lê/vê porque as imagens, fotos e filmes, são muito mais valorizados. E você ainda acessa gratuitamente várias revistas de todo o mundo.

Esta nova forma de tecnologia, que faz os tablets, já se justifica só como leitor –de jornais, revistas, filmes, twitters, blogs, livros, etc. E ainda serve para trabalhar. Você baixa um app tipo Word (Pages) ou Power Point (Keynote) por US$ 10,00 cada. Preço de app, não de software da Microsoft. Cumprem diretinho a função por este precinho. Aí você põe o iPad embaixo do braço e leva para qualquer lugar. Faz apresentações para clientes (já fiz várias), escreve numa mesa de café e assim por diante. Se a reunião atrasar, lê o seu livrinho ou assiste um filme enquanto espera.

O grande problema do iPad é a inundação de informações grátis e de qualidade que você tem à disposição. Se você fizer como eu, que fiquei rigoroso na primeira regra da internet (tudo tem que ser grátis) só para ver como é que fica, tem tanta coisa pra ler que não dá tempo. Você tem que arranjar um critério para filtrar o que vai ler mesmo. Pagar por informação, então, nem pensar. Sente falta das revistas que comprava? Sinceramente, não.

Assim como o calendário chinês diz que o ano do rato dá sorte, o calendário da tecnologia diz que o ano do iPad trouxe novas descobertas e muito mais prazer. E uma forma gostosa da gente se relacionar com a tecnologia e os meios de informação. Que veio para ficar e se desenvolver. Se bobear, 2011 vai ser mesmo o ano dos tablets –com muitos concorrentes, o que é sempre bom,  e evolução ainda maior desta tecnologia. E mais gente com um tablet na mão.

Já para o pessoal da mídia escrita (que vê hoje nos tablets o Bicho Papão que pode comer de vez o negócio de tantos anos, baseado no poder das impressoras e da distribuição) espero que 2011 seja o ano da razão. Que entendam de vez que o negócio deles é informação -e que agora têm uma nova forma de edição e distribuição. Que necessariamente não vai acabar com o negócio baseado em papel. Mas que vai mudar, vai. Portanto, mudem senhores.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

7- QUEM APOSTA NA INTERNET?

A lógica da internet é inexorável. O preço ideal é grátis. Mas aceita-se o que for bem baratinho. Porque o que interessa mesmo na web é a audiência, o modelo de negócio vem como conseqüência. Quando você tem bastante gente no seu pedaço, conseguir anunciantes ou investidores fica muito mais fácil, não é mesmo? Estão aí os Facebooks da vida para provar a tese. Veja o filme, leia o livro.

Vai falar isso para um homem de negócios da velha economia. Para gente que passou a vida construindo seu negócio com impressoras gigantes e frotas de caminhões para distribuir jornais. Papel é papel, é coisa palpável. Vende ali na esquina. Internet é uma coisa fluida, você paga pra ver mais adiante. E se o retorno não vier?

Pior que isso, devem estar enxergando o jornal digital como o assassino de seu jornal de papel. A revista no iPad tirando assinantes da tradicional e segura versão de papel. Mas pode chamar um analista para ajudar a espantar seus temores, porque o caminho cada vez mais é esse. Basta ler os jornais deles mesmos.

Hoje eu li na Folha (digital, é claro) que pela primeira vez na história os anunciantes nos EUA vão gastar mais com propaganda na internet do que com anúncios em jornais impressos. Acha que demorou muito? Quem fala é a empresa eMarketer. Publicidade on-line cresceu 14% em 2010, para US$ 25,8 bilhões, enquanto anúncios em jornais impressos caiu 8,2%, para US$ 22,8 bilhões. Para o ano que vem, dizem, este movimento (queda do átomo, subida dos bits) deve continuar, conforme os consumidores migram para a internet.

Quer um dado aqui do Brasil desta migração? O aplicativo da Folha para iPad, há pouco mais de um mês no mercado, já foi baixado por quase 30 mil aparelhos. Depois que o aparelho passou a ser vendido oficialmente (no fim de novembro) no Brasil, o número de downloads mais que dobrou. É o app de jornal mais baixado do país, segundo o ranking da Apple Store.

Cerca de 55 mil pessoas já fizeram o download (em cima é 30, aqui é 55, estou reproduzindo a notícia da Folha) e estão acessando a íntegra do jornal gratuitamente, por um período de degustação. E com isso a Folha também está sendo mais lida nos Estados Unidos, Argentina, Portugal e Reino Unido. Acabou a barreira geográfica.

Palmas para a Folha. O aplicativo dela, como já falamos, é melhor e mais prático que o dos concorrentes. É uma verdadeira versão da Folha para o iPad. Estadão e o Globo teimam em manter a foto do jornal de papel o que torna a leitura mais difícil e demora um tempão de download toda vez que você muda de página.

Mas será só esta a razão da preferência da Folha no iPad? Afinal os 3 estão oferecendo a leitura integral grátis. O fator preço está de fora. Pode ter também uma  dose de fidelidade de marca e  hábito? Eu, como usuário, prefiro a Folha pelo aplicativo. Acho muito chato ler os outros jornais no iPad.

Outra notícia. Lembra que falei que se os jornais tradicionais bobeassem corriam o risco de perder o bonde da história? Exemplifiquei com o The New York Times, que é grátis e tem a melhor versão para iPad que conheço e que poderia começar a ter muitos leitores no Brasil e outros países e começar a fazer versões multi-língua. Também falei do jornal Daily, que deve ser o primeiro jornal feito especialmente para o iPad e que o Murdoch promete para Janeiro, por US$ 0,99 por semana (preço de internet).

Hoje saiu no Meio&Mensagem: um grupo de jornalistas brasileiros promete, também para janeiro, um diário feito especialmente para iPad. Garantem que seu compromisso será com conteúdo gratuito e qualidade. E já têm um grande investidor. Que venha a concorrência para fazer as pessoas se mexerem mais rápido.

A pergunta que fica é o que a Folha vai fazer com essa preferência dos leitores no iPad?  Continuar com o jornal grátis e buscar recursos na propaganda, como faz o New York Times? Começar a cobrar dos leitores e arriscar a liderança? Não percam nosso próximo capítulo neste mesmo Batcanal.

domingo, 19 de dezembro de 2010

6- THE WEEK AFTER, PARA AS SEMANAIS.


As revistas semanais continuam cobrando para você receber a versão digital no iPad. Por modestos US$ 4,99 (em dólar mesmo) você compra a nova Veja ou a nova Época. Nenhum desconto pela economia de papel e de distribuição.

Ambas ofereceram a edição do dia 12/12 de graça, na semana de lançamento oficial do iPad no Brasil. Só para mostrar que estavam em dia com a tecnologia. Depois disso, parece que não tem mais comida grátis. Revista em bits custa a mesma coisa que a revista feita com átomos.

A Veja, que pensei que ia jogar mais duro, por ser a líder de vendas, faz um afago toda semana nos novos leitores digitais: edições especiais grátis. Na primeira semana foi a edição 3D. Páginas e páginas explicando a nova tecnologia e mostrando as TVs 3D que já estão à venda. Esta semana veio a edição especial SUSTENTABILIDADE. Vejam vocês.

Ainda da editora Abril, revistas masculinas e de negócios grátis (por enquanto). É o caso da  EXAME, que já deixou duas edições para download (de 25/11 e 15/12). E da revista ALFA, edição de dezembro. Não sei ainda se é só por um período, ou se a estratégia é essa mesmo. Só tenho que aplaudir.

O que me intriga é que todos esses casos nada mais são que a reprodução digital da revista de papel. Não são revistas formatadas especialmente para o novo mundo. Isso quer dizer que ainda não estão encarando a edição digital como um novo negócio, com edição diferente e novos anunciantes. Mas sim um período de degustação, com os anunciantes do papel recebendo uma audiência extra- agora digital.

A editora Globo, que deveria estar aproveitando a oportunidade para aumentar seu share digital (na minha modesta opinião) é que não está jogando para a platéia. Uma única edição de Época de cortesia e ponto final. Logo a Globo que está na TV, internet, TV a cabo, banda larga, jornais, revistas. (Esqueci o que?) Parece a mais reticente na ponte entre imprensa e mundo digital. Ofereceu uma edição grátis de sua muito boa Época Negócios e também parou por aí.

Isto É Dinheiro, por sua vez, deixou várias edições grátis à disposição dos tablets e deve ter recebido muitos down loads. Enquanto a revista Isto É nem apareceu ainda por aqui. Parece que cada revista da Editora 3 faz um jogo diferente.

Vou continuar acompanhando esse processo. Para mim é muito claro que o caminho digital é irreversível. Com a evolução dos tablets e outras tecnologias, a leitura digital vai ser cada vez mais comum no dia a dia. As revistas e jornais vão acabar? Não necessariamente. Mas está claro qual é o caminho do futuro. Que começa agora para as marcas que merecem hoje o respeito e confiança de seus leitores, em suas edições de papel. Que podem não ser as mesmas no futuro mundo digital. Um belo desafio, não é mesmo?

5- CORRIGINDO MEU ERRO.


Estava demorando para eu fazer uma besteira. Fui editar a primeira postagem do blog (abrir mais espaço entre os parágrafos, como tinha feito nos outros textos, para facilitar a leitura e deixar o layout mais leve), e não sei porque ele aceitou como uma nova postagem. Modificou a data e alterou a ordem dos textos do blog. Postei o primeiro texto dia 12 de dezembro, agora ficou 19 de dezembro.

Como esta primeira leva de textos é uma sequência sobre as experiências de um usuário com seu iPad, é importante que as pessoas leiam na ordem certa. Tentei corrigir, não consegui. Se alguém sabe como alterar a data de uma postagem, por favor me diga. Se alguém sabe como alterar a ordem dos textos no blog, independente da data de postagem, também pode ser uma saída. Por enquanto vou numerar os textos –acho que é a forma mais fácil das pessoas entenderem a ordem certa.

E aqui fica então o depoimento de quem faz um blog pela primeira vez. Eles têm uma estrutura rígida, fica difícil personalizar. (ou eu é que sou marinheiro de primeira viagem?) Um simples botão que apertei errado mudou a ordem dos textos e não teve como voltar atrás.

Outra coisa: tentei várias vezes alinhar o nome do blog (raulcruzlima) e a explicação (Comunicação e Tecnologia) com a foto que coloquei (teclado de máquina de escrever velha) e com os textos que vêm logo embaixo. Impossível. Fica uma escadinha com 3 degraus diferentes, porque nenhum comando alinha estes três elementos.

Vou aprendendo, vou aprendendo. Por enquanto vocês ficam com os textos numerados que é a solução que encontrei.

E aproveito para publicar a foto que meu amigo Marcos Souza Aranha mandou, para ilustrar o assunto usuário de iPad.


1- SUA VIDA VAI MUDAR EM UM CLIQUE.

O iPad entrou na minha vida faz um mês. E já deu para perceber que muita coisa mudou. E vai mudar ainda mais. Quero dizer, minha relação com a tecnologia ficou diferente. O simples fato de você ter uma tela nas mãos que pode carregar para um lado e para o outro, mexe com seus hábitos de uma forma que antes eu não esperava.

Lembro do dia em que mexi num iPhone pela primeira vez. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi – ah, se essa tela fosse maior. E pumba, chegou o iPad. Isso deve ser ótimo. E realmente é. Tanto que nesse primeiro mês meu labtop foi quase deixado de lado, pelo menos 80% das coisas que faço é muito melhor fazer no iPad.

Leio jornais, revistas, emails, twitters, de uma forma muito mais prazerosa e prática. Vejo filmes. A qualidade das imagens (fotos e filmes) fica fantástica. Só como leitor ele já vale a pena.

Saio pra rua com ele. É muito mais leve, prático e rápido que um netbook. Dá pra escrever bem nele, fazer apresentações, acessar informações de qualquer lugar.

Eu, que sou de uma geração que já trabalhou com máquina de escrever, telex, passou telegrama, montou filme em moviola, falou em orelhão, passou por todas as mudanças do século passado, sabe muito bem sentir que uma nova mudança chegou.

Não estou aqui pra fazer propaganda da Apple (bem que a gente tem que reconhecer as mudanças que ela trouxe com o iPhone e seus Apps, e agora com o iPad), mas dá pra ver que os tablets vieram pra ficar. Vão evoluir, é claro, mas o conceito que é importante.

Então decidi radicalizar. Não compro mais jornais, revistas, livros (apesar de gostar de ter um na mão). Quero ver como fica a vida só no mundo digital. E, usando a maior regra da web (grátis), também resolvi não pagar mais nada por tudo isso (o iPad vai se pagar em menos de um ano).

O resultado tem sido muito bom. Continuo tão ou melhor informado que antes e vou descobrindo o caminho das pedras a cada dia. Posso ler todos os dias a mesma Folha e Estadão de sempre, ainda posso acrescentar O Globo, que não lia todo dia, e ainda de quebra o The New York Times.

Mas aí você começa a enfrentar o problema da visão que cada jornal e cada empresa tem das tecnologias de hoje. E percebe que todo mundo está inseguro, procurando ou testando um caminho. O que faz optarem por soluções melhores ou piores para mim como leitor. Versões abertas (grátis) ou pagas da sua publicação. Mais fáceis ou mais complicadas de acessar. Mais modernas ou mais tradicionais, e por aí vai.

Como sou um profissional de comunicação (jornalista, publicitário, internet) achei que valia a pena discutir estes assuntos aqui com quem estivesse interessado. Não do ponto de vista da tecnologia, que tem muita gente que faz isso muito melhor do que eu. Mas do ponto de vista de comunicação, negócio, marketing, mudança de hábitos.

É um pouco de sangue velho na tecnologia. Um profissional acostumado a pensar estratégias,  posicionamentos, imagens de marca, usando estas habilidades para discutir o que parece ser o mundo da garotada. Que sabe fazer estas coisas como ninguém, afinal já nasceram ao lado de um computador e um celular. Mas por isso mesmo talvez não consigam ver com clareza o que está acontecendo. (Ou talvez eu esteja redondamente enganado.)

Estou começando aqui, não tenho prática de escrever blogs. Mas vou aprendendo pelo caminho. A propósito, estou escrevendo no meu labtop, para ele não se sentir tão rejeitado assim.

O primeiro recado para o pessoal das mídias que vamos falar: gente, as coisas estão mudando e mudam cada vez mais rápido. Muito cuidado para não perderem o bonde da história. Já mudou drasticamente no mundo da música. Agora a mudança vem nas mídias escritas (jornais e revistas), livros e ,logo logo, nas TVs pagas. Pode pagar para ver.



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

4- A FESTA PARA O IPAD NAS SEMANAIS.

No dia do lançamento oficial do iPad no Brasil, teve fila na madrugada para comprar a novidade pelo dobro do preço dos EUA. Foto do primeiro comprador na primeira página de sites e jornais. E festa online das semanais para receber o novo leitor tecnológico.

A Veja puxou o bloco, com todos os fogos de artifício que tinha direito: anúncios interativos, botões que abriam gráficos, fotos 3D, a foto 360 das máquinas do Wikileaks na Bat caverna, a Gisele de corpo inteiro, filminhos. Tudo grátis. Mostraram que dominavam todos os efeitos possíveis na nova plataforma tablet.

Semana seguinte tudo voltou ao normal. As semanais, acompanhando as irmãs internacionais, são vendidas na versão iPad, até em dólares. A revista Time também é assim, The Economist também é assim. Mas comprar uma Economist aqui no iPad, quase pelo preço de banca lá, sai bem mais barato do que comprar na banca aqui, onde custa mais que o dobro.

Estamos assim: Veja e Época têm suas versões iPad. Carta Capital e Isto É continuam só com o site na internet. Algumas coisas abertas para todos, versão integral para assinantes do papel. Algumas vendem a assinatura digital.

O que interessa para nós aqui é a decisão de todas elas de entrar na linha Murdoch de cobrar e cobrar bem. E não achei nenhum exemplo internacional importante que faz o contrário, como o jornal The New York Times. Então para o leitor ficou assim: demos um gostinho no lançamento, mostramos que dominamos a tecnologia. Agora tem que pagar.

A Veja anunciou que tinha 2.500 leitores no iPad (assinantes do papel que têm direito ao digital também? ou assinantes do iPad mesmo?) antes do lançamento oficial. Com a edição grátis pulou para 15 mil. Só falta a informação de como ficou quando voltou a cobrar.

Eu até entendo a posição da número 1 de jogar duro, somada com o temor: se a gente oferece agora de graça, como vamos cobrar depois? O que não entendo é porque a número 2 ou número 3 fazem a mesma coisa. Não era a hora de aumentar o período gratuito e tentar novas experiências? Não conseguiríamos anunciantes dispostos a bancar essa edição para reforçar a imagem de tecnologia na sua marca? Já que temos menos a perder (se é que temos), vamos começar aqui a trabalhar a revista digital do futuro. Hora de criar e experimentar. Hora de ousar para quem não está na liderança de vendas.

Também acho que vale aqui uma discussão importante. Qual o peso do hábito na mídia escrita? Existem pesquisas sobre isso? Algum estudo importante?

A gente sabe que na TV hábito é fundamental. Não se consegue audiência com programas isolados. Mas com uma grade de programação fixa, baseada em programas que se repetem todo dia.  Daí a força das telenovelas. Elas fazem todo mundo ligar a TV no mesmo canal diariamente, no mesmo horário, para saber quem matou o Saulo. E tudo muito bem acompanhado de pesquisas. A Clara boazinha está baixando o interesse, bota em campo a Clara diabólica que o Ibope sobe.

Na minha experiência pessoal era assim: todo fim de semana comprava pelo menos duas semanais. A Veja, só porque todo mundo lia, e a Carta Capital que tinha bons artigos –até que o pessoal ficou mais PT que o próprio Lula e a revista ficou muito chata com tanta propaganda política. Às vezes comprava a Época ou Isto É, dependendo da capa ou de uma matéria especial.

Como é agora: depois que implantei a experiência de tudo grátis, lei básica da internet, deixei de comprar semanais. E não senti nenhuma falta delas. Leio mais jornais, revistas estrangeiras, e até me sinto mais informado. Será que um dia vou voltar a comprar a Veja? A dependência está indo embora.

Mais uma coisinha pras semanais. As estrangeiras deixam aberto, para não assinantes, algumas matérias que dão o gostinho das revistas –a Escolha dos Editores. Que eu sempre dou uma olhada, tem matérias boas ali porque o objetivo é vender a revista. As nacionais deixam aberto Últimas Notícias, que não passa nada do que é a revista e geralmente são as mesmas que também estão nos sites noticiosos e nos jornais na internet. Não é bom rever esta decisão?

domingo, 12 de dezembro de 2010

3- REALMENTE UMA NOVA EXPERIÊNCIA.

O ego do pessoal da Folha ficou inchado no blog anterior. Goleada no Estadão. Mas sinto dizer, gente, que o The New York Times tá muito na frente de vocês. Por isso gosto de ler/ver o NYT. Layout elegante, limpinho, fácil de navegar. E free, como já disse.

Tem muito anúncio também, o que vocês vão gostar. Anúncios gráficos tradicionais, anúncios movimentados e até filmes que basta clicar. Eles parecem mais firmes num caminho a seguir de um formato realmente digital. Será que estou errado?

Uma sessão que gosto muito são as matérias fotográficas. Ás vezes estão dentro de uma matéria importante que está lá em outra sessão. Às vezes é só uma matéria fotográfica mesmo, com fotos tão bonitas que valeu fazer a matéria toda visual –só com legendas. Acho ótimo revalorizar nossos grandes fotógrafos. O cara agora vai caprichar mais nas fotos porque só vai depender dele virar uma matéria com destaque. Seja qual for o assunto.

Também tem a sessão de vídeos. Matérias em vídeo quando o vídeo acrescenta, matérias com som, quando também acrescenta. Tudo muito bem equilibrado, sem aquela sensação de árvore de natal que as nossas semanais mostraram nos números especiais para lançamento do iPad no Brasil. Parecia um bando de garotos deslumbrados com efeitos especiais. Lembra como foi quando os sites descobriram o flash e queriam aproveitar todas as possibilidades? Ainda bem que a moda durou pouco tempo.

Mas voltemos ao negócio dos jornais. A revolução digital está só começando. Quantas pessoas vão ter um tablet neste primeiro ano? Vale a pena tentar cobrar destes poucos em vez de aproveitar para experimentar tudo que vocês têm direito para criar seu próprio caminho digital?

Experimentar na forma, no conteúdo. Experimentar nos formatos publicitários, nas promoções e merchandisings. Procurar novas formas de parcerias com anunciantes, vincular ações na internet à venda de espaço no papel. Procurar novas parcerias internacionais para conteúdo. Como vocês vêem, tem muita coisa nova para fazer.

O importante mesmo é que o jornal digital tem que ser uma experiência nova e mais prazerosa. Quem conseguir isso já tem meio caminho percorrido. As possibilidades são infinitas. O espaço para escrever/mostrar também não tem limites. Os leitores estão no mundo inteiro. Está na hora de botar a cabeça para pensar.

P.S. Estou falando só dos grandes jornais do Rio e São Paulo para facilitar a comparação e demonstrar o que eu penso, abrindo uma discussão. Nenhum menosprezo para com jornais de outros estados ou mesmo do interior. Ao contrário. Acho que eles têm, agora, uma ótima oportunidade de negócios. Como a sede geográfica deixa de ter importância no mundo digital, nada impede que um jornal de uma cidade do interior seja o jornal digital mais lido no país. Diminuiu  a força do poder de impressão e distribuição. O que vale agora é  a inteligência de fazer um belo conteúdo com bons jornalistas e criar uma forma mais gostosa e divertida de se comunicar com os leitores. O que vai valer é a experiência, podemos falar de leitura? Então viva a criatividade. 

2- SEU NOVO DIA-A-DIA.

Vamos aos jornais. Antes do tablet, eu já lia jornais na internet. Mas não é muito fácil nem muito prazeroso. Ficar ali sentado no balcão de trabalho, se aproximando e afastando da tela grande que tenho ligada no meu labtop,  clicando e girando o scroll do mouse. Ficava com o dedo cansado depois do segundo jornal.

Todos os jornais já tinham sua versão para a web. Não dá para não se manter em dia com a tecnologia, não é mesmo? Faz bem para a imagem. A maioria deles tem uma parte aberta ao público (senão ninguém vai lá) e leitura integral para os assinantes do papel (vejam só).

Também têm assinatura digital. Um preço absurdo, se você pensar que aqui eles não gastam com papel, impressão, distribuição, comissões de vendas, etc. Este preço, então, não é estabelecido pela lógica do negócio, mas pelo medo de perder leitores nas bancas. Tou aí, mas quero mesmo é que você me compre na banca da esquina.

Como acontecia a minha escolha na web? Como assinante do UOL, lia a Folha inteira grátis. Simples assim. Nenhum outro fator influiu na minha escolha.

Aí dava uma olhada nas partes abertas do Estadão para ver se tinha alguma coisa diferente. Às vezes ia ao site de O Globo para ver a visão do Rio. Uma olhada no UOL notícias, no G1. E lia sempre os blogs que eu gosto.

Para não ficar pra trás na tecnologia, todos os jornais lançaram rapidinho sua versão para iPad, a nova moda mundial. Antes mesmo do iPad ser lançado aqui eles já “vendiam” na internet suas versões para iPad, o novo atestado de modernidade.

Como é agora? Continuo com a Folha formato iPad em primeiro lugar (hábito adquirido, gente), depois blogs que gosto, até de outros jornais –mas vou direto ao blog, via internet. Depois Estadão, O Globo e  .....The New York Times.

Como vocês vêem, entrou uma nova possibilidade na minha escolha: jornais internacionais. Posso ler facilmente jornais de outros países. Jornais que um dia podem ter uma versão internacional, com notícias de cada país e oferecidos em várias línguas. Estou apenas levantando essa possibilidade –o jornal, do ponto de vista de localização geográfica, não precisa mais ser local. E o Murdoch vai lançar um jornal especial para iPad. Cuidado aí, minha gente.

Outra coisa que começa a pesar na escolha de leitura: o formato de tecnologia escolhido por cada jornal. Continuo fiel à Folha, também,  porque o formato de leitura dela é muito melhor que o do Estadão.

O Estadão e O Globo estão em cima do muro. Reproduzem no tablet uma fotografia do jornal no papel. É como se você estivesse com o jornal na mão, só que digital e menor. Resultado: mais demorado para baixar (erro imperdoável no mundo digital), mais difícil para ler. Você tem que ampliar e ficar passeando na página, para baixo, para cima, para os lados. Aí você faz o gesto para virar a página e quase sempre o sistema falha. Então você toca em páginas do caderno e vê que ficaram páginas em branco no meio. Dá para entender porque escolheram este formato?

Dá sim. Não entenderam ou não assumiram que o formato digital é outro negócio. Tem que ter o melhor formato para aquela mídia, diferente do jornal em papel. E tem que ter anunciantes diferentes para aquela edição, com anúncios criados especialmente. Tem que ser encarado como outra fonte de receita. Ninguém lê (nem vê) um anúncio de página inteira de jornal num pequeno iPad.

Não deve ser fácil para o pessoal dos jornais admitir que o negócio de hoje, o carro chefe do faturamento está com os dias contados. É o fim do jornal de papel? Talvez sim, talvez só diminuam as tiragens. Mas uma coisa é certa: o jornal digital é que vai crescer.

E convenhamos: vocês estão no negócio da informação. Ontem só escrita e impressa em papel. Hoje com um pé na internet, assumindo também a possibilidade da informação audiovisual –filmes e som. Amanhã, provavelmente só digital e cheio de possibilidades.

Não faz mesmo mais sentido derrubar cem árvores para imprimir um jornal, gastar combustível e ajudar a complicar o trânsito para distribuir. Depois criar toneladas de papel que vão para o lixo, se tudo pode ser substituído por um clique.

Novo formato, novo negócio, meus amigos. Por isso a Folha está melhor que os outros, deve estar pensando melhor também. Afinal não tem tanto leitor de tablet no Brasil e então é uma boa chance para testar novas possibilidades. Quem é o mais lido na internet? Se você acha que este título não é importante para o negócio é porque você não está enxergando nem a médio prazo.

Bem, numa coisa todo mundo empatou. Todos oferecem o conteúdo para iPad grátis –por enquanto. E o que vão fazer depois? Estão esperando o resultado do que acontece lá fora? O Murdoch mandou os jornais dele cobrarem por tudo. Nada free. Não colou. Já o New York Times deixou tudo free, ele mesmo diz que é por enquanto. Mas outro dia li que um terço da receita publicitária deles agora vem da internet.

Aposto que este é o modelo que vai pegar. Propaganda e promoções deixando o jornal free (ou bem barato mesmo, preço de internet) para os leitores. O que eu chamo de promoção? Será que nenhum jornal ou revista ofereceu ainda para o Itaú ou Bradesco presentear no natal seus clientes especiais com uma assinatura digital? É um belo presente, não é?