A garotada foi pras ruas na última
semana, depois de 20 anos de ausência. (Lembra dos cara-pintadas?) Fizeram manifestações
contra o aumento nas tarifas do transporte coletivo. O Governo não estava
preparado: nem o Federal, nem o Estadual, nem o Municipal. E baixaram o pau na
garotada, como faziam com a gente no fim dos anos 60, começo dos 70, na época
da ditadura. Autoridades, de todos os níveis, aplaudiram a ação da polícia.
A mídia não estava preparada: nem TV,
nem jornais, nem revistas, nem rádio. Aplaudiram a ação da polícia contra os
baderneiros radicais que paravam as cidades e depredavam o patrimônio publico.
(Na nossa época, nos chamavam de
baderneiros radicais e comunistas.) Esse era o combustível necessário para as
manifestações crescerem, como cresceram.
O número de gente na rua aumentou exponencialmente. E as Autoridades perceberam que o buraco era mais embaixo. Não se bate
impunemente em garotos universitários por volta dos 20 anos, muitos deles filhos
da classe média. Mães ficam furiosas, amigos logo ficam solidários. Mais ainda:
cacetetes, bombas de gás e balas de borracha atingiram todos indistintamente,
até os jornalistas que faziam a cobertura dos eventos nas ruas. A mídia também
apanhou.
(Uma explicação: esse blog não se propõe
a entrar na praia da análise política. Mas conversar sobre comunicação,
marketing e tecnologia. Vamos nos manter então nesse campo, sem fazer juizo de
valor das ações e reações polítcas.)
Moral da história, quando perceberam o
tamanho da encrenca que compraram, logo as senhoras Autoridades mudaram de
opinião. Rapidamente. A mídia também. Mas continua todo mundo sem entender o
que está acontecendo. Governos procurando lideranças que não existem,
mídia chamando os especialistas de
plantão para dar sua explicação.
Me parece claro que todo esse movimento
tem duas causas globalizadas: primeiro, a crise do modelo de desenvolvimento
capitalista atual, de crescer a qualquer custo, que levou o planeta a esta
situação que todos estamos vivendo. O sonho acabou. E os brasileiros estão percebendo
que não basta copiar os chamados países ricos, porque eles estão numa enrascada
pior que a nossa.
E a lógica das Redes Sociais, que criam
movimentos horizontais – grupos interagindo, sem liderança de uma só pessoa.
Foi assim na Primavera Árabe, está sendo assim nos movimentos europeus. Ainda
tem a facilidade das novas tecnologias para espalhar idéias e convocar pessoas
para manifestacões. Comunicacão democrática, ao alcance de todas as pessoas.
Acrescente nessa receita a situação
nacional. Partidos que perderam o pé da realidade e não representam mais
ninguém (a grande maioria dos manifestantes e da população brasileira não se
sente representada por nenhum deles), corrupção, mensalão, partidos de aluguel,
e por aí vai. As pessoas buscam as ruas porque não têm com quem falar.
Autoridades decidem sozinhas o que acham melhor para todos, ninguém ouve mais
ninguém.
E a mídia vai nessa onda. Tenta ser moderna e critica governos que por sua vez se
dizem perseguidos por ela. Mas quando surge uma coisa diferente, ninguém
percebe o que está acontecendo e ficam todos do mesmo lado. (Daí os slogans
contra a grande mídia nas manifestações.) Depois mudam todos para o outro lado.
Vamos combinar que o mundo está passando
por grandes mudanças. Nada mais será como antes, concorda?
Mudaram os negócios, as grandes empresas
de hoje estão ligadas às novas tecnologias, as empresas tradicionais tiveram
que adotar valores das novas tecnologias em suas práticas diárias. Mudaram as
comunicações, quem tenta continuar como antes, apostando em jornais e revistas
de papel, na TV aberta com uma via só de comunicação, está perdendo espaço para
os formatos digitais –dos tablets, dos celulares inteligentes, até mesmo dos
computadores, porque não? Que trouxeram rapidez e interação para as nossas
vidas.
Se tudo está mudando, porque a política
não tem que mudar? Como diria um homem de marketing, o modelo de negócio dos
partidos politicos –centralizador, pessoal, excludente, autoritário- está com
os dias contados. Pode demorar mais, pode demorar menos, mas vai ter que mudar
para se adaptar a este novo mundo. Mais democrático, participativo, interativo,
baseado em valores e não em ambições pessoais, em interesses corporativos.
Resta saber se os partidos tradicionais
vão ter visão e humildade para acompanhar estas mudanças. Se vão aprender a
ouvir as pessoas que elas dizem representar. Se vão de fato tentar ser
representantes do povo. Ou se novos partidos vão surgir como essa nova visão de
mundo e de política.
Essa garotada sabe das coisas. Estão (em
São Paulo pelo menos, não sei se têm ligação nacional) focados hoje em segurar
o aumento do transporte coletivo. Mas sabem que as pessoas não vão para a rua
só por isso. Vão sim atrás de respeito e dignidade. Por um país mais sério e
mais justo. E que o movimento não vai parar só por aí. Vamos aprender um pouco
com eles.
Porque, como você vê, tudo isso é um
grande problema de comunicação.
Adorei quando você disse: "a garotada foi pras ruas". Você me fez rejuvenescer uns 35 anos. Só isto já valeu participar das manifestações. Abração
ResponderExcluirGostei muito da clareza de sua descrição. Descrição do SENTIR da população do planeta e de nosso país em particular, neste momento de evolução da Humanidade..
ResponderExcluirPrecisamos de mais pessoas com pensamento livre como o seu.
Importante divulgar este seu artigo. Já anexei ao meu Blog.
Um abraço.