Olha aí o Doria surfando nas redes. Fazendo o que todo
político devia aprender a fazer: usando a comunicação o tempo todo, mesmo
depois de eleito. Mais ainda depois de eleito. Mas usando comunicação da forma
correta.
Os eleitores cansaram. Na época das eleições os políticos
aparecem, vêm para a rua, estão nas redes sociais, nos programas eleitorais.
Simpáticos, abraçando e beijando todo mundo. Depois que conseguem os votos,
somem. Ficam fechados em seus gabinetes, ninguém mais consegue falar com eles.
Essa é a velha forma de fazer política, que a maioria de
nossos políticos arrogantes continua usando. E é por isso que as pessoas vão
para a rua gritar: vocês não nos representam. Representam apenas seus próprios
interesses, como a Lava Jato está provando.
Façamos justiça, esse não é apenas um fenômeno brasileiro. A
separação entre a classe política e o povo que devia representar é um fenômeno
mundial. A democracia, da forma que praticamos hoje, está em crise. Manifestações,
em quase todos os países, estão levando essa mensagem para todo mundo ouvir.
E isso acontece numa época em que nunca foi tão fácil se
comunicar, ficar perto das pessoas. Com as novas tecnologias, qualquer um pode
conversar com quem quiser, com o país inteiro -sem precisar de muito dinheiro.
Basta querer. Basta ter vontade de aprender. Basta ter humildade para também
saber ouvir os outros.
É nas redes sociais que agora a política acontece. É onde as
pessoas se encontram diariamente, discutem, trocam opiniões, defendem suas
ideias, formam grupos, marcam manifestações. E, infelizmente, onde vivem
brigando com quem tem ideias diferentes.
Todo bom profissional de comunicação sabe que tudo é
comunicação. A forma como um político se comporta, se veste, fala com as
pessoas, quem são seus amigos, as obras que ele faz e como faz, os secretários
que escolhe, tudo passa uma mensagem. Quem não tem consciência disso está, todo
dia, passando mensagens que não gostaria ou não deveria. Se está governando,
está comunicando alguma coisa. Mesmo que fique calado.
Todo bom profissional também sabe que a coisa mais
importante que a comunicação pode fazer pelo seu cliente é construir uma imagem
forte e diferenciada. Como está fazendo o Doria. Na eleição, além de ser uma
cara nova, apostou na imagem de Gestor e não político. Trabalhador. Inovador.
Anti-PT. Veja o resultado: um quase desconhecido da grande população foi eleito
no primeiro turno, na maior cidade do país.
No dia em que tomou posse, reiniciou esse trabalho
imediatamente. E foi mais fundo.
Transformou seu governo num verdadeiro reality show. É o governo Doria, ao vivo,
para todo mundo acompanhar. Todo dia você vê onde ele está, o que está fazendo
e depois ele ainda
aparece prestando contas. E as pessoas participam, batendo
palmas,
elogiando, criticando. Tudo isso repercutindo nas rádios, TVs
e nos jornais, onde o Doria virou pauta diária.
E lá vai ele reafirmando e comprovando os valores que
prometeu na campanha. Trabalhador -está nas ruas e na internet das cinco horas
da manhã até tarde da noite. Inovador -a ideia de comprar tempo ocioso das
máquinas de exames de grandes hospitais, por preço SUS, por exemplo, é muito
boa, não é? Anti-PT -ataca o Lula sempre que pode. Gestor -chama atenção para
isso todas as vezes que fala: não é milagre não, gente, é boa Gestão.
Ainda trabalha junto outros valores que as redes sociais adoram:
Transparência, Participação, Proximidade das pessoas. Resultado? Em alguns
meses saiu do quase anonimato para ser visto como futuro candidato a Presidente
da República. Agora está incomodando os políticos tradicionais.
Tá todo mundo de olho no case Doria. Até quando vai dar
certo? A realidade de uma cidade que tem muitos gastos e pouca verba para realizar
ainda vai encontrar com ele ali na esquina. Mas parece que Doria e sua equipe
(que cria junto todas essas coisas para ele) estão se mostrando inteligentes o
suficiente para arrumar uma forma de contornar as dificuldades.
O importante é que ele acredita no bom uso da comunicação,
coisa que a maioria dos políticos nem consegue entender. Sabe o que é construir
uma imagem. É bom de palco para passar as suas mensagens. Hoje tem a aprovação
de 70% dos paulistanos. E de muito mais gente por todo o Brasil.
Mas daí a virar candidato a presidente é outra estória, não depende
só dele, mas de muitas outras coisas. E se ele chegar lá, vai ter que
acrescentar outros valores ao seu discurso. Não basta ser bom gestor para
governar o Brasil.
Política sempre foi comunicação. Desde a época dos grandes
comícios, dos 3 ou 4 partidos e dos grandes oradores. Levavam vantagem os
políticos que tinham carisma, sabiam comunicar melhor suas ideias, que juntavam
o povo na praça e conseguiam inflamar as pessoas. Um grande discurso ficava
sendo lembrado e repetido por muito tempo.
Hoje vivemos o timing da internet. Um novo discurso, rápido,
objetivo, todo dia. Repercussão imediata, tanto na rede como nas rádios, TVs e
jornais do dia seguinte. Política, mais do que nunca, é comunicação. Como dizia
o velho Chacrinha, quem não se comunica se trumbica.