Estou envolvido num projeto que considero importante, já que
vai definir como vai ser o Brasil que vamos deixar para os nossos netos: um país
moderno, baseado na sustentabilidade, ou um país antigo, destruidor de suas reservas
naturais em nome do pequeno benefício imediato.
Estou falando do novo Código Florestal Brasileiro. Resumindo:
temos hoje um Código decente, que tem como princípio defender nossas florestas.
Mas ele não é respeitado. Resolveram então modernizá-lo. O primeiro tempo deste
jogo aconteceu na Câmara dos Deputados, onde um projeto de lei ruim (que retira
várias proteções que as florestas já tinham) passou rapidinho e sem debate – e foi
aprovado por 80% dos deputados que nem sabiam no que estavam votando. Enquanto
isso, pesquisa Datafolha dizia que 80% dos brasileiros eram contra esse projeto
de lei, aprovado por eles.
O segundo tempo se desenrola no Senado Federal. Eles podem,
também, aprovar o mesmo projeto. Podem fazer modificações. Ou podem até criar
um projeto totalmente novo e melhor para o futuro do Brasil.
(Estamos neste momento. O resultado do que sair do Senado
volta para a Câmara dos Deputados – que aprova ou rejeita, ou pode até voltar
ao projeto ruim que saiu dali. Depois vai para aprovação ou veto da Presidência
da República.)
Aí foi criado o Comitê em Defesa das Florestas e do
Desenvolvimento Sustentável, que reúne quase uma centena de organizações da nossa
sociedade civil (CNBB, OAB, ABI, CUT, entidades ambientais, etc.), para lutar a
favor de um novo Código Florestal que nos dê orgulho de ser brasileiros. E fui
convidado para criar a comunicação do movimento.
Como nossa base é a internet (não temos verba para a grande
mídia), criamos uma campanha essencialmente participativa e interativa – como gosta
a internet. Com o tema geral FLORESTA FAZ A DIFERENÇA, criamos uma série de
posters alltype (com o Diretor de Arte Cleuber Alias) e sugerimos que as
pessoas se fotografassem com eles, completando o anúncio. Que divulgassem as
fotos nas redes sociais com a hashtag #florestafazadiferenca e também nos
enviassem para divulgação em nosso site (parceria digital de João Ramirez).
Site no ar, campanha se espalhando pelas redes sociais,
abaixo-assinado online, gente participando. Aí chegou a hora da primeira
comissão do Senado entrar em ação (CCJ). Precisávamos que o Código Florestal
fosse discutido publicamente, para conseguir mais apoio para apoiar/pressionar
os senadores. Mas, apesar do assunto ser tão importante para nós, para o futuro
do país, a grande mídia não se interessou.
Resolvemos criar nossa própria mídia: um canal de TV na internet, 24 horas no ar por 3 dias, com ambientalistas, cientistas, juristas, discutindo o assunto. O resultado está numa matéria que saiu hoje no Estadão: Vigília virtual pelas florestas reúne 40 milhões de pessoas. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,vigilia-virtual-pelas-florestas-reune-40-milhoes-de-pessoas--,776290,0.htm
O projeto ainda vai passar por mais 3 comissões no Senado.
Vamos repetir nossa ação na internet, para acompanhar o trabalho em cada uma
delas: um dia antes, discutindo o assunto, e no dia da votação, comentando o
que está acontecendo para as pessoas que não estão informadas dos detalhes. O
pessoal gostou da experiência.
Também criamos (junto com o Percival Caropreso e o Fernando
Meireles, com participação da Gisela Moreau e da Marussia Whately) uma série de
vídeos com depoimentos de diversas pessoas famosas, que aderiram espontaneamente
ao movimento - que logo começarão a ser exibidos na internet e nas TVs que toparem
veicular gratuitamente. Precisamos criar pressão no Senado.
Essa história real, que está acontecendo agora, serve para
ilustrar o que chamo de Jornalismo Cidadão, uma ação que acredito que vai
acontecer cada vez mais. Primeiro, porque tem assuntos que interessam a grupos
de pessoas, mas que não interessam para a grande mídia. Nem para as TVs
privadas, nem para as TVs públicas – estas sim, deveriam obrigatoriamente se
interessar por este tipo de assunto, mas ainda não existe clareza no Brasil do
que significa ou o que deve fazer uma TV pública de verdade.
Segundo, porque a tecnologia cada vez mais desenvolvida de
TV na internet torna essa ação cada vez mais acessível. Quem assistiu nossa TV
ao vivo na internet, pôde ver entradas ao vivo de Brasília ou até das ruas de São
Paulo. Isso foi possível graças a um equipamento leve, que cabe numa mochila
(tecnologia israelense) que usa 6 chips 3G comuns, de telefone celular, junta o
sinal deles num só, com velocidade de 2GB, e coloca na internet a imagem de uma
câmera portátil. Com boa qualidade. Ano que vem este equipamento vai ter menos
de um palmo de tamanho, para ser preso na cintura.
Com coisas assim, grupos que quiserem ser ouvidos vão montar
suas próprias TVs na internet, a custos baixos. Temporariamente, como estamos
fazendo, ou até uma TV pra todo dia. O resultado disso deve ser a segmentação cada
vez maior da mídia. Ou pode até mesmo acontecer que as grandes TVs acordem para
o fato e ocupem este espaço cidadão, para evitar a concorrência-guerrilha. E
não vai demorar muito tempo não.
(Se você está lendo este blog ainda em setembro ou outubro,
é brasileiro e se preocupa com o futuro do país, participe da campanha.
Divulgue para os amigos. Procure nosso abaixo-assinado online em www.florestafazadiferenca.org.br.
Obrigado.)