A partir de 2013 você vai poder ler no seu iPad, computador
ou iPhone, um novo jornal. Nada menos que o famoso The New York Times, agora em
português. Edição brasileira, com matérias locais e internacionais, com a
chancela de qualidade do NYT. Assim como eles já estão fazendo na China. Pode
não ser pouca coisa não, para o negócio do jornalismo no Brasil. Acho bom
ficarem espertos.
Isso é apenas o começo, ou a continuação, de uma
concorrência que –com os avanços da tecnologia- vai ficar cada vez mais global.
Ou você nunca pensou que uma das maiores forças das novas tecnologias aplicadas
aos jornais é a possibilidade deles terem leitores espalhados por todo o mundo?
Essa possiblidade está ali, implícita nestas novas tecnologias. Só não vê quem
não quer.
Em entrevistas aos jornais daqui, Arthur Sulzberger,
Publisher e Presidente do grupo NYT, deu esta notícia e falou das novas
tecnologias sem nenhum preconceito: “produzimos notícias de qualidade e
publicamos onde nossos leitores preferem –no papel, no iPad, no computador.
Quanto tempo vai durar o jornal de papel? Enquanto nossos leitores quiserem.”
Este é o novo mundo.
Ele também fala na velocidade da nova tecnologia, na
possibilidade de agregar vídeos ao material jornalístico. Com uma naturalidade
que a gente não vê quando nossos empresários da mídia falam do futuro do
jornalismo –sempre defendendo o negócio baseado no papel, no poder das grandes
impressoras, da frota de caminhões para distribuição, da rede de bancas
espalhadas pela cidade. Por isso a diminuição da venda de jornal nas bancas soa
como o fim do negócio dos jornais. Quando pode ser apenas o reinício.
Vamos lembrar também que foi o NYT que criou o sistema de
pagamento para notícias na internet chamado paywall –que, ao mesmo tempo que
cobra dos assinantes, deixa uma abertura para quem quiser ler algumas notícias
sem pagar nada. Isto é, você cobra porque tem que pagar sua estrutura de
produção, mas não afugenta os leitores ocasionais. Ao contrário, mantém uma
ligação com eles, que podem ser futuros assinantes. Este sistema está sendo
copiado no mundo todo, inclusive no Brasil.
Não tem mais sentido tantos veículos gráficos brasileiros
que, moderninhos, lançaram seus Apps no iPad. Cobram o mesmo preço da banca
(apesar da edição digital não ter os custos da edição de papel) e não deixam o
não pagante ter acesso a nada. Esse é o comportamento da maioria das revistas
brasileiras, que ainda não aprenderam a lidar com a cultura das novas
tecnologias.
Sugiro darem uma olhada no App da The Economist, respeitada
em todo o mundo, onde você compra ou assina a revista ou, sem pagar nada, tem
acesso às principais matérias selecionadas pelos editores. Podemos chamar isso
de venda futura. Ou mesmo de manter o interesse e aumentar o valor da marca. Aumentar
a distribuição. É uma bela decisão estratégica, não acha? Além de ser muito
simpática.
Aí perguntaram para o Arthur Sulzberger se o NYT também ia
trabalhar com a tecnologia HTML5 (a Folha usa esta tecnologia) para fugir da
ditadura da Apple. Pergunta preconceituosa, também, porque os empresários
brasileiros acham muito cara a comissão
que a Apple cobra para vender seus jornais (acho que é 20%). Ele respondeu que
não pretendia sair daquela tecnologia, mas sim acrescentar uma outra possibilidade.
O que os empresários que reclamam da Apple não enxergaram
ainda é que a Banca do iPad abriu a possiblidade de você vender seu jornal no
mundo inteiro. Por isso o NYT está lá e por isso mesmo ele vai lançar sua
edição brasileira. Quanto vale uma distribuição mundial e instantânea? Que valor
agrega a seu produto e sua marca? Quanto custa a mais ou a menos que a velha
impressão/distribuição do jornal de papel?
São novos tempos, novas tecnologias. Que precisam de novas
respostas. E convidam as pessoas a pensar grande. Sem os limites da banca da
esquina.