Se
você não viu a abertura da Olimpíada de Sochi, ainda dá para ver na internet,
os vídeos estão lá. Vale a pena. Os russos conseguiram fazer um espetáculo que,
para mim, trouxe inovação. Por isso ficou, além de muito bonito, surpreendente.
Eles
usaram o que a gente pode chamar de multi-linguagem, misturando vários
elementos: atuação de pessoas (com dança e acrobacia), cenários leves, cabos de
aço (que levantavam e faziam voar pessoas e cenários), iluminação bem
trabalhada, som e (uma bela novidade) projeção no chão. Além dos já batidos
fogos de artifício. Tudo muito bem coordenado, as pessoas interagindo com todos
os outros elementos.
O
chão do estádio era branco e recebia projeções: imagens em movimento, reais (ou
realistas) como do espaço e da terra, ou desenhos animados, como de um mar
revolto com desenho em branco e preto. No mar revolto, que fazia quase efeito
de 3D, tinha imagens de navios andando –e gente dentro dos navios, que andavam
junto com a imagem dele, formavam a tripulação e atuavam ao mesmo tempo. Tudo
muito bem coordenado e ensaiado. Esta projeção é que acrescentou a grande
novidade no resultado final.
A
iluminação mudava, aumentando o efeito do que acontecia, criando clima, ou
simplesmente apagava, para nos deixar ver pessoas em movimento ou cenários -com
luzes. Como na cena das pombas da paz, uma das mais marcantes do espetáculo,
criada por bailarinas com fios cheios de luzes. Girando e criando efeitos
diferentes. Simples e criativo ao mesmo tempo.
Foi
um espetáculo profissional com tecnologia embarcada, usada para valorizar ainda
mais as atuações das pessoas, dançarinos e atletas. Contou a história, passou
emoção. Deixou a imagem de um povo que sabe fazer grandes espetáculos, com sua
marca cultural.
Agora
vamos olhar para nosso maior espetáculo: o desfile das escolas de samba, que
logo logo vem aí. É uma festa popular fantástica, cheia de criatividade das
comunidades que participam em peso, organização perfeita, para manter milhares
de pessoas bem ensaiadas na avenida. É a cara do Brasil de verdade.
Assistir
um desfile ao vivo é uma experiência emocionante, que mexe até com quem não é
folião. O som da bateria passando e aquela multidão cantando, levanta qualquer
um da cadeira. Fui lá e adorei. Depois passei a ver o desfile na TV. Até que
cansou. Como espetáculo para TV é tudo muito igual, com pouca criatividade
visual. Chão branco, iluminação forte, para facilitar a transmissão, imagem
chapada, sem nuances, sem mais nada. A Globo criou um padrão e não arrisca
nada. Não dá liberdade para os criadores das escolas de samba –que são quem faz
realmente o show.
Aí
fiquei imaginando como a imagem ficaria, por exemplo, se fosse possível apagar
as luzes, de vez em quando, e trabalhar com pessoas e cenários iluminados, como
em Sochi. Quantas possibilidades de criação as escolas ganhariam só com isso.
E
se acrescentarmos projeção no chão? Criando espaços diferenciados, cenários
virtuais muito mais ricos e mais baratos que carros alegóricos gigantes. Cenários
em movimento, junto com as pessoas, contando histórias, aumentando a emoção. O
uso de projeção criaria uma palheta de infinitas possibilidades para estes
grande criadores.
Então
taí a sugestão. A evolução do espetáculo do desfile das escolas de samba vai
passar necessariamente pelas novas tecnologias. As que a gente viu em Sochi,
para começar. E outras que venham para ajudar a aumentar a emoção e tornar
ainda mais surpreendente esta grande festa.
Nossa
cultura popular é forte. Nosso povo é criativo. E isso é o principal. O resto é
forma. E quanto mais bonito melhor.