quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

16- EGITO: INTERNET É O HERÓI. E A TV E A IMPRENSA?

Hoje é o grande dia que a imprensa está anunciando há vários meses: o lançamento do iPad2. A nova versão do produto mágico que, no ano de lançamento, vendeu mais de 15 milhões de unidades. Todo mundo quer dar, em primeira mão, as novidades que a Apple vai apresentar. Vai ser mais fino, com duas câmeras (na frente, para ligações com imagem, atrás, para fotografar), mais rápido, melhor resolução de tela, tela que não “suja” com os dedos, e por aí vai. E quem já tem iPad já acha que ficou para trás.

Um amigo, desses loucos pela Apple, me escreveu logo que comecei a escrever sobre isso: “Raul, este ainda não é o iPad. Ainda não tem a qualidade de produto e de acabamento que fazem o padrão Apple. Eles lançaram assim mesmo só para ocupar espaço com um novo produto. O iPad2 é que vai ser o verdadeiro iPad”. Pode ser que o Ivo tenha razão.

Como a minha praia não é a tecnologia, não estou muito preocupado com as novidades que vão ser lançadas hoje. Estou, isto sim, é atento às mudanças que estão ocorrendo desde o lançamento do pré-iPad, segundo o Ivo. Como este conceito de tablet atingiu a gente como consumidor, como está mudando nossos hábitos, nossa forma de nos relacionar com a tecnologia. E como este conceito também vai afetar o mundo dos negócios.

Senão, veja: nos jornais de hoje tem meia dúzia de notícias sobre os tablets. Uma mostra como eles estão invadindo as escolas, substituindo livros escolares e trazendo novas possibilidades de ensino via interação com os alunos. Como escrevi num blog anterior.

Noutra mostra os tablets invadindo as empresas, que já são responsáveis por um quarto das compras do produto em todo o mundo, para distribuir para seus funcionários. No Brasil, dizem, empresas representarão muito mais: 30 a 40% do total de 300 mil aparelhos que deverão ser vendidos aqui este ano. Deve ser porque, para variar, os tablets são muito mais caros aqui que nos outros países. Você precisa ser pessoa jurídica para comprar um.

Outra matéria deixa mais claro, para a gente, o tipo de uso que as empresas vão fazer dos tablets. Dá como exemplo um grande laboratório farmacêutico brasileiro que já comprou 1500 iPads para seus representantes de vendas. Eles vão substituir as 50 toneladas de folhetos e catálogos, que imprimem todo ano, para levar aos 400 mil médicos do país suas novidades e suas ofertas. Além do charme, é claro, de apresentarem seus produtos num tablet, que ainda é uma grande novidade tecnológica. Depois, se o médico se interessar pelo conteúdo, recebe uma cópia digital via email. É claro que o tablet também vai servir para fazer relatórios, pesquisar informações, enviar e receber emails, etc. Manter o funcionário permanentemente conectado com a empresa.

Outra matéria fala dos concorrentes do iPad –da Samsung, da RIM (fabricante do Blackberry), da HP, da Motorola e da Asus. Todo mundo querendo uma fatia deste mercado que cresce rapidamente em todo o mundo. E está forçando a queda de vendas dos labtops.

Podia continuar, aqui,  contando muitas histórias sobre os tablets. Por exemplo, ontem vi uma foto na Wired (revista sobre inovação e tecnologia) mostrando uma nova van elétrica da Volkswagen. No lugar do painel da direita, onde fica rádio, computador, etc, um iPad. Veja na foto abaixo.

Mas importante mesmo é analisar o modelo de negócios da Apple, que introduziu o conceito e é campeã de vendas até aqui. Porque ela tem a loja da Apple, umbilicalmente ligada ao tablet. Quer dizer, o iPad é movido a Apps (aplicativos) que fazem as coisas acontecerem. Por exemplo: você quer escrever, tem que comprar um App tipo Word (o Pages), que custa tipo US$ 9,00. Baratinho como software de texto, mas vendendo 15 milhões quanto dá? A Apple fica com 30% de tudo que é vendido ali. Um negócio enorme.

A maioria dos outros tablets usa sistema Android, da Google, que também abriu sua loja de Apps. Não é a Samsung ou a HP que ganham com a venda de Apps para Android (como a Apple) mas a Google –que passa a concorrer com a Apple neste novo mercado. Ela cedeu, gratuitamente, sua tecnologia em alta para os fabricantes de hardware. Mas vai ganhar na venda de software e conteúdo.

A maioria dos analistas tecnológicos acha que o tablet da Apple ainda está na frente. Mas muita gente prefere o sistema Android. Eu acho que a tendência é igualar resultados, partindo da cópia que todo mundo faz do iPad. No futuro os tablets devem ficar parecidos, com poucas diferenças, como acontece com os celulares. E aí o fator preço deve fazer a diferença.

E quem ganha esta guerra? A Apple é a única que tem os dois lados do negócio. Pode fazer como a Gillette sempre fez, vende aparelho barato porque seu negócio é vender gilete. Ou como a Kodak, que vendia câmera barata porque o negócio era vender filme. Onde a Apple ganha mais?

A verdade é que os outros fabricantes (que só ganham com a venda dos aparelhos) não estão conseguindo preços iguais ao da Apple –todos são mais caros. Se eu fosse o Steve Jobs, dava uma tacada de mestre. Depois do iPad2, que leva a Apple mais para cima, lançava uma versão mais simples –e mais barata. E passava todos os outros para trás.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

15- EGITO: ESTAMOS FORMANDO NOSSO CONSCIENTE COLETIVO DIGITAL?

As pessoas têm discutido muito o papel da internet na revolução do Egito, em todos os jornais do mundo inteiro. É uma discussão que não acaba nunca porque, no fundo, todo mundo tem razão.

Tem a turma que acha que a internet foi só um meio de comunicação, que revolução se faz é com gente. Com ou sem internet. E eles estão certos.  Afinal, já aconteceram movimentos parecidos sem internet -em 1968, na França, só para dar um exemplo.

Outros dizem que nada teria acontecido sem as redes sociais – que foi onde as pessoas se conheceram e onde começaram a discutir e planejar as ações que depois aconteceram no mundo real. Estes também têm razão. Quem pode afirmar que tudo aquilo aconteceria sem uma forma de contato digital, num país onde era complicado fazer manifestações ou até mesmo se reunir?

A gente não consegue mais imaginar a nossa vida, hoje, sem alguma influência do mundo digital. Mas quero dar outro passo à frente e botar mais lenha nessa fogueira. Mostrar a internet como um agente mais ativo ainda: quem disse que a nossa vida digital não pode influenciar a nossa forma de pensar -e assim influir na nossa vida chamada real?

Então vamos lá.  A internet aproxima as pessoas e seus valores, independente de todas as fronteiras (geográficas, culturais, religiosas, etc). Ali você lê revistas e jornais, livros, vê TVs de todo o mundo, sem censura. Pode visitar museus por toda parte, fazer cursos a distância nas melhores universidades. Participa de grupos de discussão, com amigos de todo o mundo. Resumindo: você vive experiências reais, independentes de tempo e espaço. Você pode estar aqui e lá, ao mesmo tempo. E isso é real, faz parte da sua vida.

De repente sua vida digital  entra em choque com o que a gente considera sua vida real. Como é que fica? Você vive toda essa sensação de liberdade na internet e depois sai na rua e esbarra numa realidade dura e crua. Como é que você se sente? Pelo que parece, no Egito deu 1 X 0 para a liberdade digital.

Vocês não acham que isso é possível? Que estamos formando, na internet, uma espécie de consciência coletiva digital -que está mudando a cabeça das pessoas mundo afora e influindo nos acontecimentos cada vez mais?

Aí está uma boa bola levantada para quem se dedica a estudar estes assuntos a fundo. E uma ótima preocupação para todos os ditadores que teimam em existir, em pleno século das redes sociais.

PUBLICADO TAMBÉM NO ESTADÃO, COMENTANDO BLOG DE PEDRO DÓRIA: http://blogs.estadao.com.br/pedro-doria/2011/02/06/a-revolucao-no-egito-depende-necessariamente-da-internet/#comments

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

14- iPAD: 1001 UTILIDADES.


Saiu na Folha de hoje: iPad vira Manual do Proprietário em novo carro da Hyundai, o Equus, nos EUA. Em vez do manual de papel, um iPad. Fabricante diz que, com o tablet, pode demonstrar melhor a suspensão do carro em uma animação, entre outras coisas.

Não diz ali que ele também pode atualizar algum assunto na hora que quiser, basta fazer um download. Nem que o iPad também serve para ver os mapas do caminho, como um GPS, ou para ver filmes armazenados nele, durante uma viagem. O fabricante ainda pode usar o iPad como forma de se relacionar com o cliente, baixando novas informações o tempo todo. Etc e etc.

Na mesma notícia fala de um Land Rover que chega ao Brasil, em Maio, com dois iPads fixados nas costas dos bancos da frente -para passageiros assistirem seu filme favorito no banco de trás. E por aí vai. Os tablets estão invadindo o seu carro também.

Na App Store já existem várias ótimas revistas da indústria automobilística mundial, como a da Mercedes, que migraram para a mídia digital atrás das vantagens de demonstrar seus carros com todas as possibilidades que o iPad oferece: filmes, animações, fotos com ótima qualidade, distribuição gratuita e mundial, para um público selecionado.

Mas ainda tem gente que não dá o braço a torcer. Na mesma matéria da Folha, ali de cima, dizem que os engenheiros das indústrias americanas responderam à Hyundai com uma piada: “Sabe o que você ganha se comprar um iPad por US$ 60 mil?  Um Hyundai Equus”.

Como já discutimos aqui antes, o tablets vieram para ficar. E para mudar a sua vida, seus hábitos, sua ligação com a tecnologia. E para mudar a vida das empresas também, como vimos no exemplo acima. Vai sempre existir uma nova aplicação para o tablet, em qualquer área de negócio que você pensar.

Isso me fez lembrar de um filme divertido, que saiu logo depois do lançamento do iPad nos EUA, lá por Maio de 2010, e que circulou na internet na época. E que vale para o que estamos falando agora. Se você ainda não viu, dá uma olhada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

13- QUEM VAI SER O NOSSO MURDOCH: O FRIAS, O MESQUITA, O MARINHO? OU NENHUM DOS ANTERIORES?

Esta semana foi lançado o The Daily, primeiro jornal diário feito especialmente para o iPad. Ainda não dá para baixar o App (aplicativo que dá acesso ao jornal) aqui no Brasil, só nos EUA. Então não deu para ver como ele é, como funciona. Mas o que todo mundo escreveu é que tem cara de revista, é dinâmico (muda a capa e notícias durante o dia), usa as várias possibilidades do meio tablet (filmes, fotos 360, etc), interage com as redes sociais (tipo twitter e facebook). É o mínimo que a gente esperava de um jornal feito para iPad.

Importante é que eles encararam o iPad como uma nova experiência de leitura (mais que leitura) e não ficaram repetindo a cara de jornal ou revista que os periódicos têm no papel. Como continuamos a fazer aqui no Brasil. Saíram do zero, então fizeram o que consideram melhor para o novo meio. É uma ótima experiência, vai valer para o resto do mundo que está em cima do muro, à espera do que vai acontecer daqui para a frente.

Numa coisa eu concordo com Mr. Murdoch, que diz que o iPad é o dispositivo mais inovador dos últimos tempos. O iPad (e o tablet em geral) é uma experiência nova, que muda completamente a relação que as pessoas têm com a tecnologia –e isso é sentido fortemente quando a gente lê jornais, revistas e livros no tablet –e não no labtop. Muda tudo pelo simples fato da gente ter uma tela nas mãos, que leva para qualquer lugar. E por ter um nível de interação que o labtop não tem.

Leio meus jornais no iPad. Todos que eu quiser, de qualquer parte do mundo. Por enquanto tudo grátis. Leio revistas, por enquanto as que estão disponíveis sem cobrar. Ou leio as partes que cada revista deixa para acesso livre. Que já é bastante coisa, não dá para ler tudo que você tem direito. (Não é pãodurismo, é uma experiência pessoal e ao mesmo tempo o fato de não concordar em pagar US$ 4,99 para acessar a Veja ou Época, mesmo custo de quem compra a revista em papel na banca.)

E isso nos leva à parte mais importante da experiência do The Daily, que todo mundo está pagando para ver: o modelo de negócio vai dar certo?

Ele se propõem a ter um jornal diário que se pague (e dê lucro, é claro) metade por anunciantes e metade pelos leitores. Vão começar a cobrar, daqui a 15 dias, US$ 0,99 por semana pelo jornal. O que dá US$ 3,96 por mês, US$ 47,52 por ano. De quantos leitores eles precisam?

Um dólar por semana é um preço que combina com o iPad, onde a maioria dos apps é vendida aos mesmos US$ 0,99. As pessoas que criam estes aplicativos descobriram que é um grande negócio vender barato para vender para milhões. Que é a lógica online. Você não tem custo de materialização (impressão, no caso dos jornais) nem de distribuição. Logo o custo de produção é muito mais barato.

Grátis, o New York Times está sendo lido no iPad por mais de 1,5 milhão de pessoas em todo   o mundo (já que não tem barreiras geográficas). Isso diminuiria muito se ele cobrasse US$ 0,99 por semana das pessoas? Acho que não. Eu, mesmo distante, sem o NYT ser meu primeiro jornal de leitura obrigatória, toparia 0,99 para ter acesso a ele. Ao mesmo tempo que acho absurdo o Estadão cobrar R$ 29,90 por mês pela leitura online de seu jornal. Vamos cair na real, gente.

Acontece é que nossos empresários não acreditam (ou não querem acreditar) nessa mudança que está acontecendo, como o Murdoch. Ele foi o primeiro porque enxergou claramente que o futuro é por aí. E não porque tem dinheiro sobrando, nem porque quer rasgar dinheiro. Fez, isto sim,  é  porque quer ganhar mais dinheiro. Ele é o primeiro e, se fizer bem feito, vai ocupar um espaço que os concorrentes vão demorar um tempão para alcançar, se é que um dia vão alcançar.

É claro que vender informação depende muito do conteúdo. Você compra Folha, Estadão ou O Globo porque eles defendem uma posição parecida com a sua. É como partido político, é como time de futebol. (Eu gostava de ler Carta Capital até que o Mino tirou a carteirinha do PT e a revista ficou repetitiva, só defendendo o Lula e atacando os outros.) Também depende da força da marca que cada empresa já construiu no mercado.

Mas, com estas novas tecnologias, é muito mais barato lançar um jornal ou uma revista. Não precisa do poder das grandes impressoras, das frotas de caminhão para distribuir, das máfias das bancas. (Lembra como as pequenas agências de propaganda se desenvolveram depois da chegada dos computadores gráficos, que eliminaram a necessidade das grandes estruturas?)

Se os nossos grandes empresários da comunicação continuarem empurrando o problema com a barriga, nada impede que grupos de bons jornalistas ocupem este espaço. Como já tentaram fazer na época dos jornais impressos -não deu certo porque não tinham todos estes poderes à disposição, apesar de serem competentes. Quem sabe não dá certo agora,  com a ajuda desta nova tecnologia? Eu dou a maior força para as mudanças, para a evolução das pessoas e dos meios.