As pessoas têm discutido muito o papel da internet na revolução do Egito, em todos os jornais do mundo inteiro. É uma discussão que não acaba nunca porque, no fundo, todo mundo tem razão.
Tem a turma que acha que a internet foi só um meio de comunicação, que revolução se faz é com gente. Com ou sem internet. E eles estão certos. Afinal, já aconteceram movimentos parecidos sem internet -em 1968, na França, só para dar um exemplo.
Outros dizem que nada teria acontecido sem as redes sociais – que foi onde as pessoas se conheceram e onde começaram a discutir e planejar as ações que depois aconteceram no mundo real. Estes também têm razão. Quem pode afirmar que tudo aquilo aconteceria sem uma forma de contato digital, num país onde era complicado fazer manifestações ou até mesmo se reunir?
A gente não consegue mais imaginar a nossa vida, hoje, sem alguma influência do mundo digital. Mas quero dar outro passo à frente e botar mais lenha nessa fogueira. Mostrar a internet como um agente mais ativo ainda: quem disse que a nossa vida digital não pode influenciar a nossa forma de pensar -e assim influir na nossa vida chamada real?
Então vamos lá. A internet aproxima as pessoas e seus valores, independente de todas as fronteiras (geográficas, culturais, religiosas, etc). Ali você lê revistas e jornais, livros, vê TVs de todo o mundo, sem censura. Pode visitar museus por toda parte, fazer cursos a distância nas melhores universidades. Participa de grupos de discussão, com amigos de todo o mundo. Resumindo: você vive experiências reais, independentes de tempo e espaço. Você pode estar aqui e lá, ao mesmo tempo. E isso é real, faz parte da sua vida.
De repente sua vida digital entra em choque com o que a gente considera sua vida real. Como é que fica? Você vive toda essa sensação de liberdade na internet e depois sai na rua e esbarra numa realidade dura e crua. Como é que você se sente? Pelo que parece, no Egito deu 1 X 0 para a liberdade digital.
Vocês não acham que isso é possível? Que estamos formando, na internet, uma espécie de consciência coletiva digital -que está mudando a cabeça das pessoas mundo afora e influindo nos acontecimentos cada vez mais?
Aí está uma boa bola levantada para quem se dedica a estudar estes assuntos a fundo. E uma ótima preocupação para todos os ditadores que teimam em existir, em pleno século das redes sociais.
PUBLICADO TAMBÉM NO ESTADÃO, COMENTANDO BLOG DE PEDRO DÓRIA: http://blogs.estadao.com.br/pedro-doria/2011/02/06/a-revolucao-no-egito-depende-necessariamente-da-internet/#comments
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