sábado, 5 de fevereiro de 2011

13- QUEM VAI SER O NOSSO MURDOCH: O FRIAS, O MESQUITA, O MARINHO? OU NENHUM DOS ANTERIORES?

Esta semana foi lançado o The Daily, primeiro jornal diário feito especialmente para o iPad. Ainda não dá para baixar o App (aplicativo que dá acesso ao jornal) aqui no Brasil, só nos EUA. Então não deu para ver como ele é, como funciona. Mas o que todo mundo escreveu é que tem cara de revista, é dinâmico (muda a capa e notícias durante o dia), usa as várias possibilidades do meio tablet (filmes, fotos 360, etc), interage com as redes sociais (tipo twitter e facebook). É o mínimo que a gente esperava de um jornal feito para iPad.

Importante é que eles encararam o iPad como uma nova experiência de leitura (mais que leitura) e não ficaram repetindo a cara de jornal ou revista que os periódicos têm no papel. Como continuamos a fazer aqui no Brasil. Saíram do zero, então fizeram o que consideram melhor para o novo meio. É uma ótima experiência, vai valer para o resto do mundo que está em cima do muro, à espera do que vai acontecer daqui para a frente.

Numa coisa eu concordo com Mr. Murdoch, que diz que o iPad é o dispositivo mais inovador dos últimos tempos. O iPad (e o tablet em geral) é uma experiência nova, que muda completamente a relação que as pessoas têm com a tecnologia –e isso é sentido fortemente quando a gente lê jornais, revistas e livros no tablet –e não no labtop. Muda tudo pelo simples fato da gente ter uma tela nas mãos, que leva para qualquer lugar. E por ter um nível de interação que o labtop não tem.

Leio meus jornais no iPad. Todos que eu quiser, de qualquer parte do mundo. Por enquanto tudo grátis. Leio revistas, por enquanto as que estão disponíveis sem cobrar. Ou leio as partes que cada revista deixa para acesso livre. Que já é bastante coisa, não dá para ler tudo que você tem direito. (Não é pãodurismo, é uma experiência pessoal e ao mesmo tempo o fato de não concordar em pagar US$ 4,99 para acessar a Veja ou Época, mesmo custo de quem compra a revista em papel na banca.)

E isso nos leva à parte mais importante da experiência do The Daily, que todo mundo está pagando para ver: o modelo de negócio vai dar certo?

Ele se propõem a ter um jornal diário que se pague (e dê lucro, é claro) metade por anunciantes e metade pelos leitores. Vão começar a cobrar, daqui a 15 dias, US$ 0,99 por semana pelo jornal. O que dá US$ 3,96 por mês, US$ 47,52 por ano. De quantos leitores eles precisam?

Um dólar por semana é um preço que combina com o iPad, onde a maioria dos apps é vendida aos mesmos US$ 0,99. As pessoas que criam estes aplicativos descobriram que é um grande negócio vender barato para vender para milhões. Que é a lógica online. Você não tem custo de materialização (impressão, no caso dos jornais) nem de distribuição. Logo o custo de produção é muito mais barato.

Grátis, o New York Times está sendo lido no iPad por mais de 1,5 milhão de pessoas em todo   o mundo (já que não tem barreiras geográficas). Isso diminuiria muito se ele cobrasse US$ 0,99 por semana das pessoas? Acho que não. Eu, mesmo distante, sem o NYT ser meu primeiro jornal de leitura obrigatória, toparia 0,99 para ter acesso a ele. Ao mesmo tempo que acho absurdo o Estadão cobrar R$ 29,90 por mês pela leitura online de seu jornal. Vamos cair na real, gente.

Acontece é que nossos empresários não acreditam (ou não querem acreditar) nessa mudança que está acontecendo, como o Murdoch. Ele foi o primeiro porque enxergou claramente que o futuro é por aí. E não porque tem dinheiro sobrando, nem porque quer rasgar dinheiro. Fez, isto sim,  é  porque quer ganhar mais dinheiro. Ele é o primeiro e, se fizer bem feito, vai ocupar um espaço que os concorrentes vão demorar um tempão para alcançar, se é que um dia vão alcançar.

É claro que vender informação depende muito do conteúdo. Você compra Folha, Estadão ou O Globo porque eles defendem uma posição parecida com a sua. É como partido político, é como time de futebol. (Eu gostava de ler Carta Capital até que o Mino tirou a carteirinha do PT e a revista ficou repetitiva, só defendendo o Lula e atacando os outros.) Também depende da força da marca que cada empresa já construiu no mercado.

Mas, com estas novas tecnologias, é muito mais barato lançar um jornal ou uma revista. Não precisa do poder das grandes impressoras, das frotas de caminhão para distribuir, das máfias das bancas. (Lembra como as pequenas agências de propaganda se desenvolveram depois da chegada dos computadores gráficos, que eliminaram a necessidade das grandes estruturas?)

Se os nossos grandes empresários da comunicação continuarem empurrando o problema com a barriga, nada impede que grupos de bons jornalistas ocupem este espaço. Como já tentaram fazer na época dos jornais impressos -não deu certo porque não tinham todos estes poderes à disposição, apesar de serem competentes. Quem sabe não dá certo agora,  com a ajuda desta nova tecnologia? Eu dou a maior força para as mudanças, para a evolução das pessoas e dos meios.

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