domingo, 4 de novembro de 2012

42- HOMENAGEM AO JORNAL DA TARDE. A GRANDE REVOLUÇÃO DO JORNALISMO?


Primeira metade dos anos 70. Eu era um jovem repórter do Jornal da Tarde. (Tinha saído da faculdade em 68, direto para a nova revista Veja. Era um dos 200 universitários que a Abril peneirou em todo o Brasil para começar a fazer a grande revista semanal da época. Em 72 saí da Veja para o JT.) Cheguei na redação no fim da tarde, como todos os dias, e comecei batucar na máquina de escrever. Mais ou menos isso aqui.

-      Você liga o rádio. Uma música começa sem ser anunciada. Só um violão, uma batida bem cadenciada: tung jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung, jacatung... Ninguém precisa dizer nada, você já sabe que é Jorge Ben.

E aí vinha uma matéria de página inteira sobre  o revolucionário Jorge Ben, hoje Jor, um de nossos grandes músicos. Levei para o editor (não consigo me lembrar quem era) que leu a matéria inteira sem falar nada, aí virou pra mim e disse: “Vou cortar esse começo. Escrever som não é jornalismo.”

Porque não? perguntei. É o som que ele faz no violão. A melhor forma de apresentar o balanço do Jorge Ben. E aí começamos uma discussão sobre o assunto. Como não chegamos a um acordo, ele perguntou a outro editor o que achava. Um a favor, um contra. Um terceiro, um quarto, e logo a redação inteira discutia acaloradamente se aquilo era válido ou não. A discussão continuou até de madrugada, quem chegava (os editores chegavam mais tarde) ia entrando no assunto do dia.

Como não chegaram a um consenso decidiram não errar, em nome da inovação, de não proibir o inusitado –publique-se.

No dia seguinte a discussão continuou na redação. Uns gostavam, outros não. Semana seguinte, uma grande matéria de duas páginas, tinha um título bem curto e grande: Click. Era sobre fotografia. O JT tinha assumido o onomatopaico no jornalismo. Um efeito tão comum nas histórias em quadrinhos, entrava para as páginas dos jornais.



Estou contando essa história para mostrar, para quem não viveu o dia a dia do JT, como as coisas aconteciam. Como tudo era levado a sério, como uma coisa aparentemente nova era discutida à exaustão. E aplicada dali para a frente. Não sei se foi realmente a primeira vez que se usou sons escritos no jornalismo. Nem é tão importante aqui.

Importante era o compromisso com as coisas novas, inteligentes, com quebrar paradigmas, ir além do que os outros estavam fazendo. Criar novas formas de diagramar, de escrever, de se comunicar. Tudo respaldado por uma equipe de primeira, com quem aprendi muito.

Por isso o JT marcou época e influenciou não só o jornalismo, mas a propaganda, as artes gráficas, e talvez a literatura, a música, o teatro da época. Quem estava por perto era contaminado por aquela maneira livre de pensar e trabalhar.

Esta semana o JT fechou, com quase 50 anos de vida. Já tinha morrido anos antes, quando o Estadão, por razões empresariais, deixou de manter aquela brilhante e cara redação. E o JT virou um jornal como os outros. Mas deixou uma lição de como fazer jornalismo moderno e de qualidade.

É verdade que as pessoas não gostam de ler coisas compridas? As matérias do JT eram bem compridas e muito bem escritas –e as pessoas adoravam ler. Vinham numa embalagem sofisticada, com grandes e belas fotos ou desenhos. Tipografia caprichada. Muito branco para deixar tudo limpo, nada de encher todos os espaços.

Acho que faria sucesso ainda hoje, que vivemos a cultura dos 140 toques. Aliás é esse tipo de cultura que está faltando no jornalismo digital que está começando agora, nos iPads e iPhones da vida. Uma cultura de inovação que não se contente em repetir na telinha digital o mesmo que fazem nos jornais de papel.

Jornalismo digital vai ser outra coisa. Diferente, participativo. Precisa um grupo como aquele do JT para começar uma nova revolução. Estou aqui para aplaudir.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

41- O ESTADÃO, A FOLHA E O GLOBO GANHARAM UM NOVO CONCORRENTE DE PESO: O NEW YORK TIMES.


A partir de 2013 você vai poder ler no seu iPad, computador ou iPhone, um novo jornal. Nada menos que o famoso The New York Times, agora em português. Edição brasileira, com matérias locais e internacionais, com a chancela de qualidade do NYT. Assim como eles já estão fazendo na China. Pode não ser pouca coisa não, para o negócio do jornalismo no Brasil. Acho bom ficarem espertos.

Isso é apenas o começo, ou a continuação, de uma concorrência que –com os avanços da tecnologia- vai ficar cada vez mais global. Ou você nunca pensou que uma das maiores forças das novas tecnologias aplicadas aos jornais é a possibilidade deles terem leitores espalhados por todo o mundo? Essa possiblidade está ali, implícita nestas novas tecnologias. Só não vê quem não quer.

Em entrevistas aos jornais daqui, Arthur Sulzberger, Publisher e Presidente do grupo NYT, deu esta notícia e falou das novas tecnologias sem nenhum preconceito: “produzimos notícias de qualidade e publicamos onde nossos leitores preferem –no papel, no iPad, no computador. Quanto tempo vai durar o jornal de papel? Enquanto nossos leitores quiserem.” Este é o novo mundo.

Ele também fala na velocidade da nova tecnologia, na possibilidade de agregar vídeos ao material jornalístico. Com uma naturalidade que a gente não vê quando nossos empresários da mídia falam do futuro do jornalismo –sempre defendendo o negócio baseado no papel, no poder das grandes impressoras, da frota de caminhões para distribuição, da rede de bancas espalhadas pela cidade. Por isso a diminuição da venda de jornal nas bancas soa como o fim do negócio dos jornais. Quando pode ser apenas o reinício.

Vamos lembrar também que foi o NYT que criou o sistema de pagamento para notícias na internet chamado paywall –que, ao mesmo tempo que cobra dos assinantes, deixa uma abertura para quem quiser ler algumas notícias sem pagar nada. Isto é, você cobra porque tem que pagar sua estrutura de produção, mas não afugenta os leitores ocasionais. Ao contrário, mantém uma ligação com eles, que podem ser futuros assinantes. Este sistema está sendo copiado no mundo todo, inclusive no Brasil.

Não tem mais sentido tantos veículos gráficos brasileiros que, moderninhos, lançaram seus Apps no iPad. Cobram o mesmo preço da banca (apesar da edição digital não ter os custos da edição de papel) e não deixam o não pagante ter acesso a nada. Esse é o comportamento da maioria das revistas brasileiras, que ainda não aprenderam a lidar com a cultura das novas tecnologias.

Sugiro darem uma olhada no App da The Economist, respeitada em todo o mundo, onde você compra ou assina a revista ou, sem pagar nada, tem acesso às principais matérias selecionadas pelos editores. Podemos chamar isso de venda futura. Ou mesmo de manter o interesse e aumentar o valor da marca. Aumentar a distribuição. É uma bela decisão estratégica, não acha? Além de ser muito simpática.



Aí perguntaram para o Arthur Sulzberger se o NYT também ia trabalhar com a tecnologia HTML5 (a Folha usa esta tecnologia) para fugir da ditadura da Apple. Pergunta preconceituosa, também, porque os empresários brasileiros acham muito cara  a comissão que a Apple cobra para vender seus jornais (acho que é 20%). Ele respondeu que não pretendia sair daquela tecnologia, mas sim acrescentar uma outra possibilidade.

O que os empresários que reclamam da Apple não enxergaram ainda é que a Banca do iPad abriu a possiblidade de você vender seu jornal no mundo inteiro. Por isso o NYT está lá e por isso mesmo ele vai lançar sua edição brasileira. Quanto vale uma distribuição mundial e instantânea? Que valor agrega a seu produto e sua marca? Quanto custa a mais ou a menos que a velha impressão/distribuição do jornal de papel?

São novos tempos, novas tecnologias. Que precisam de novas respostas. E convidam as pessoas a pensar grande. Sem os limites da banca da esquina.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

40- O FUTURO DOS JORNAIS EM DISCUSSÃO II. A CONTINUAÇÃO.



 Aconteceu em São Paulo o 7.º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Reuniu 918 jornalistas de 25 estados e de 10 países diferentes. É o segundo maior evento do gênero no mundo, dizem que ano que vem será o maior.
É claro que a discussão acabou em cima do futuro dos jornais. Para atualizar a discussão que comecei neste blog, repito abaixo algumas frases selecionadas pelo jornalista José Roberto de Toledo em sua coluna (Estadão, 16/07/2012). Quem já leu a coluna dele, deixa para lá.
"A internet procura imitar os jornais, e os jornais estão tentando imitar a internet. Para os jornais, isso é suicídio. (...) Que os jornalistas voltem sua criatividade para encontrar o jornal do seu tempo."
(Jânio de Freitas, 80 anos, 60 de jornalismo.)
"A revolução digital transformou o habitat dos meios de comunicação da escassez de um deserto na abundância da floresta amazônica. O que está em crise é o modelo de negócio dos jornais, não o jornalismo." (Rosental Calmon Alves, fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.)



"O modelo de cobrança de conteúdo online criado pelo New York Times está dando certo. Conseguimos 500 mil assinantes digitais e a circulação do jornal impresso aos domingos cresceu. Não sei se o modelo é replicável em outro lugares, por outros veículos." (David Carr, colunista do New York Times, mais badalado analista de mídia do mundo.)


"Nada substitui estar presente no local dos fatos, mas o jornalista pode completar suas informações pesquisando e desenvolvendo fontes nas redes sociais." (Andy Carvin, autor da melhor cobertura em tempo real da Primavera Árabe.)
"Os emergentes da classe C não querem ser iguais às pessoas da classe A. Eles têm identidade própria. Seus padrões de beleza e seus ideais de consumo são diferentes. As mulheres da classe A querem ter o corpo da Gisele Bündchen, as da classe C, o da Geisy Arruda." (Renato Meirelles, diretor do Data Popular, referência sobre as classe de consumo C, D e E, ao dizer que o novos consumidores não vão comprar os mesmos jornais que a classe A lê.)


"Desde 2005, 40 mil jornalistas foram demitidos nos EUA. (...) O jornal onde eu trabalhava não existe mais. O New York Times hoje é um negócio completamente diferente. (...) Fazemos muitas transmissões ao vivo, vídeos e devemos fazer cada vez mais. (...) Um jornalista depende menos do que ele estudou e mais do que ele fez e faz, do número de seguidores que ele tem no Twitter; sua contratação é uma fusão da sua marca com a do veículo onde ele vai trabalhar. (...) Esta é a melhor época de todos os tempos para ser jornalista. (...) Como jornalistas, apesar de não ganharmos muito, vivemos a vida de reis ou de rainhas; acho que vale a pena lutar por isso." (David Carr, New York Times.)
Este tema ainda vai esquentar muitos congressos pela frente. Continuaremos acompanhando. O que eles dizem e o que eles fazem.

(Leia abaixo O FUTURO DOS JORNAIS EM DISCUSSÃO.)

domingo, 1 de abril de 2012

39- ASSISTA A TV GLOBO. AGORA NA INTERNET.


Sinal dos tempos: a TV Globo anunciou que está trabalhando firme para ter um canal, também, na internet. Como o Google TV, o You Tube TV,  e todos os outros que já entraram ou estão entrando nessa onda. Logo logo você vai ter centenas de canais de TV assim na internet, mas direto na sua TV. Com uma grande diferença: você assiste o que quiser, na hora que quiser.

Não faz mais sentido a gente esperar o horário estabelecido por uma TV aberta ou fechada (por assinatura) para assistir um filme, uma série, ou até uma novela. Tudo que já está gravado pode e deve ser assistido na hora que você escolher. Isto é novo, é moderno, é a nova tecnologia, é a nova TV. Que já está acontecendo.

Basta ter um aparelho de TV novo, desses já conectados na internet. Ou uma Apple TV (uma espécie de streamilizador, acabei de inventar), ou um Xbox (game da Micrsoft), que jogam imagens destes canais direto na sua TV.



Filmes já estão disponíveis em vários canais grátis – como You Tube (é, também tem longas no you tube). E os que não estão ali, geralmente os mais novos, estão em canais pay per view como Netflix (R$ 15,00 por mês para assistir quantos filmes quiser) ou iTunes da Apple e Now da NET  (onde estão os lançamentos, ainda mais novos, e você paga por filme que aluga). Você assiste na hora que quiser (com bela qualidade de imagem) e não na hora que a Globo mandar.

E o que vai sobrar com hora marcada? Telejornais, esportes, shows, eventos. Assistir as coisas ao vivo, na hora que acontecem. Vale até guerra ao vivo, como aconteceu no Iraque, que a gente assistia os tiros cortando a noite na nossa TV.

Isso vai afetar bastante o modelo de negócio das TVs abertas, é claro. Mas ainda vai demorar um tempão para acontecer para valer. Os novos canais na internet estão chegando, estão disputando conteúdos, vão bancar e produzir novos conteúdos, um belo novo mercado para quem trabalha com produção audiovisual.

Aí, quando eles tiverem conteúdos para competir, vão atingir primeiro as classes mais altas, com estes aparelhos mais caros, alguns bons anos para chegar à massificação. Quer dizer, a Globo ainda vai reinar muitos anos. E, se for competente, pode reinar também na internet. Bom conteúdo ela tem bastante.

É um bom momento para a gente ler O Livro do Boni, que conta a vida do cara muito competente que inventou a TV como ela é hoje. E que logo logo vai acabar.



Eu era jornalista, escrevia também sobre TV, quando o Boni começou a dirigir a Globo. Lembro que fui fazer uma entrevista com ele na Globo São Paulo, ali na rua das Palmeiras, para o Jornal da Tarde –que era o grande jornal da época, filhote do Estadão.

Para mudar mais rápido a cabeça das pessoas que trabalhavam na nova Globo, ele entrava na sala delas e escrevia na parede com pincel atômico, bem no estilo da Revolução Cultural: VOCÊ TEM NA MÃO O VEÍCULO MAIS FORTE QUE EXISTE. USE-O. E ai de quem apagasse o que estava escrito nas paredes. Boni era o Mao da nossa TV.

Ele é um grande profissional. Levou a TV Globo ao primeiro lugar de audiência sem mudar muito os programas, só implantando uma nova forma de divulgar sua própria programação, como acontece até hoje – criou as chamadas, o plim plim, etc.

Defensor da máxima TV É HÁBITO, criou a famosa grade da TV Globo de hoje: novela, Jornal Nacional, novela. Dizia que a novela era a forma mais barata de amarrar a audiência todo dia. E criar o hábito de sintonizar todo dia o mesmo canal. Criou uma grade de programação baseada em novelas e desbancou as outras TVs –com programações baseadas em shows e musicais. Criou o padrão Globo de qualidade.

O Boni, que é um cara muito inteligente, também deve concordar comigo. Não tem mais sentido TV com hora marcada. Não com as tecnologias que temos hoje à disposição. Muito menos com as tecnologias que vão chegar amanhã, que podem mudar tudo isso que está acontecendo hoje.

domingo, 25 de março de 2012

38- A POLÍTICA DOS POLÍTICOS NÃO É MAIS A POLÍTICA DAS PESSOAS. A INTERNET É A PROVA DISSO.


A imagem que mais marcou 2011 apareceu nas capas das revistas do fim do ano: o mundo inteiro protesta. Começou com a primavera árabe, em países que viviam sob ditaduras antigas, onde –de repente, sem aviso prévio, sem lideranças formais- as pessoas foram para as ruas pedir dignidade. Liberdade, abaixo o governo tirano, valores básicos assim.

O movimento correu de um país para outro, como se respondesse a um planejamento prévio, e pegou todo mundo de surpresa. Inclusive os ditadores, que nunca esperavam movimentos tão fortes contra eles. Revoluções espontâneas nascidas nos papos da internet, que era por onde as pessoas se comunicavam. E onde combinaram de ir juntos para a rua.


O mundo se maravilhou com aqueles jovens corajosos que resolveram enfrentar tudo, para mudar o destino de seus povos e países. Liberdade para eles, o mundo inteiro apoiou.

Até aí tudo bem. Tunísia, Egito, Líbia, Síria, não faz mais sentido governos como esses no mundo de hoje. Mas depois o movimento atravessou os mares e foi estourar na Europa em crise –Grécia, Espanha, Itália, um por um foram entrando na era do protesto.

Depois o movimento atravessou o oceano e foi estourar em Wall Street. Somos 99% e não aceitamos o que está acontecendo aqui, o que está acontecendo no mundo. Como é que ocupações que faziam sentido na Praça Tahir começaram a acontecer em Wall Street? E porque uma ocupação pacífica nos EUA incomoda tanto os governos locais?

A origem de todos estes movimentos e a forma deles se comunicarem com as pessoas e com o mundo é a internet. Redes sociais, que servem para você falar do seu dia a dia com os amigos,  também servem para você fazer sua crítica ou gozação política. Servem para discutir e divulgar um movimento que um grupo de pessoas começou.

Porque só discutimos os problemas aqui na internet? Porque parece que não existe mais espaço na política formal para o que as pessoas pensam e querem. Aconteceu uma ruptura entre as pessoas e os políticos profissionais, que parecem cada vez mais defender interesses que não são os nossos. Os partidos não têm mais valores, causas, estão apenas preocupados com ganhar o poder. E depois manter.

Isso vale para o Brasil, mas também parece valer para os outros países do mundo. Quem levou o mundo para a crise que todos estão vivendo, senão os políticos e governos que realizaram um formato de crescimento apoiado em valores econômicos que estouraram no nosso colo?

No Brasil, assuntos muito sérios para o nosso futuro, como o Código Florestal, precisaram da internet para serem levados a sério. Na mãos dos políticos ia ser resolvido sem a participação de ninguém, muito menos dos cientistas –quem mais deviam ser ouvidos num assunto tão técnico quanto esse. Porque os políticos ativos neste projeto tinham interesses para defender. Interesses que não necessariamente eram os nossos.


Precisou um grupo de 150 entidades da sociedade civil se juntar e convocar os brasileiros para a luta, na internet, para equilibrar um pouco o jogo. Que continua mais forte do lado de lá, onde estão os interesses que os políticos defendem. Do lado de cá, do lado dos cientistas e das pessoas que se importam com o futuro do Brasil, só alguns políticos isolados. Nenhum partido importante se meteu nessa briga.

Como vai ser a política do futuro? Todo mundo discutindo todos os assuntos e depois votando pela internet? Governos abertos, na internet, para ouvir as pessoas todo dia e não só na hora das eleições? Políticos conectados e preocupados em representar de verdade o que as pessoas que votaram neles pensa?

Seja qual for o caminho, tudo vai passar por aqui. Afinal, a internet é o que representa melhor o que cada pessoa pensa, o que todas as pessoas pensam. E tudo vai depender do que a gente fizer hoje na internet: discutindo, cobrando, participando, assinando embaixo. Ou então vamos continuar aqui apenas gozando políticos e governos, gozando de nós mesmos.



PS: O STF acaba de proibir políticos de fazer propaganda política pelo twitter, antes do chamado período eleitoral –quando TV e rádio têm os programas políticos gratuitos. É o sistema reforçando a cultura da política com hora marcada. Só discuta política na hora das eleições.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

37- PARA LER EM 2012: NO iPAD OU NO PAPEL.


Dei uma palestra no encerramento do MBA de Marketing de Serviços da FIA/USP. Curso muito bem organizado pelo Professor Marcos Campomar. Papo legal, gente legal, um dia depois do lançamento da iTunes no Brasil. Foquei no que a tecnologia tem mudado a indústria de serviços nos últimos anos. Desde casos pré-históricos até hoje.

Por exemplo: trabalhei com a Telesp (a única telefônica de São Paulo, estatal) na época do orelhão todo importante, na era pré-celular. Era o máximo de mobilidade. Tinha que falar com alguém, procurava o orelhão mais próximo, comprava uma fichinha na banca de jornal e pronto. Aí inventamos o pré-pago –as pessoas deviam comprar várias fichas para carregar no bolso. Dá que a banca já está fechada quando você precisa.

Também trabalhei no lançamento de O Site (El Sitio), portal para pessoas que falam português ou espanhol, um pouco antes do estouro da bolha. Falávamos de coisas que estão ainda hoje na moda: atender bem as pessoas, ensinar a lidar com a tecnologia. Abrir espaço para quem tinha o que escrever e não conseguia uma brechinha em outro lugar. Foi um sucesso. Fez um belo IPO em Nova Iorque, meses antes do sonho acabar.

Aí mostrei como nossa vida hoje é diferente e muda toda hora, com cases que discutimos toda hora aqui nesse blog. Graças aos smartphones e tablets, que  aceleraram de vez essas mudanças. E, agora, com a chegada de empresas como a loja da Apple no Brasil.

Quer ver? Outro dia viajei. Baixei no iPad um jornal do dia e um filminho do iTunes. Já tenho livros no iPad e músicas no iPhone. É so decidir o que você quer fazer, nas 4 horas de vôo. Vai um filminho? Notícias do dia? Ou quer ouvir a última da Marisa Monte?

Mas depois de tudo isso disse que, apesar da tecnologia, o mais importante mesmo é o que a gente pensa, cria, planeja, inova, antes mesmo de executar qualquer coisa -na forma tradicional ou na forma digital. Uma empresa é, antes de tudo, um conjunto de valores escolhidos e hierarquizados. É o que a gente chama de Branding ou Construção de Marca. Se essa etapa é bem feita, é muito mais fácil uma empresa fazer sucesso depois.

Importante é aprender a pensar, aprender a sonhar. O resto acontece como consequência. Pense bastante, com detalhes, antes de começar a executar qualquer coisa.

Depois sugeri dois livros para a turma ler em 2012.

O primeiro é a biografia do Steve Jobs, do Walter Isaacson. É muito bom saber os detalhes da vida do cara que foi o grande ícone da nova tecnologia. Mas o livro também é uma aula de como fazer uma empresa ser coerente com os valores que a diferenciam da concorrência. O Steve levou isso às últimas consequências. Criou o sonho de que a Apple ia mudar o mundo e se fixou na frase de um publicitário: think different. A partir daí criou produtos, serviços, lojas, que mudaram a indústria para sempre.



O segundo, é o mais vendido do New York Times: Delivering Happiness, de Tony Hsieh . O cara tem uma loja de sapatos na internet, a Zappos, como existem várias. O que ele pensou: o atendimento das empresas ao consumidor é tão ruim que eu vou focar nisso. Vou ajudar as pessoas,  entregando o melhor call center que pode existir. As pessoas vão gostar da gente. Quando precisarem comprar um sapato, quem sabe se lembram de nós. É sucesso de venda e de público. Tanto o livro como a loja.



Contam que ele estava dando uma palestra e um cara incrédulo ligou para o atendimento dele ali, ao vivo. Disse que estava numa pequena cidade do interior e se podiam ajudá-lo a descobrir uma pizzaria delivery, ali perto: em menos de um minuto passaram para ele vários telefones de pizzarias ao redor.

O que ele diz? Make customer service the entire company, not just a department. Focus on company culture as the #1 priority. Apply research from the science of happiness to running a business. Seek to change the world. Oh, and make money too. (O livro não tem tradução em português, ainda.)

Fica aqui a sugestão para todo mundo. Leiam estes livros em 2012. No iPad ou no papel. Não importa. O importante é a gente entregar felicidade para os outros. O ano inteiro.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

36- O FUTURO DOS JORNAIS EM DISCUSSÃO.


Estão reunidos em São Paulo representantes de jornais do mundo inteiro, no Seminário Internacional de Jornais da INMA –International Newsmedia Marketing Association. Vieram discutir o futuro dos jornais. Dos jornais de papel, é claro, e a sua transição, quem sabe um dia,  para o mundo digital.

O simples fato das pessoas se referirem só à coisa física, de papel, como jornal, já mostra como é a cabeça deles. Este é o jornal (físico) que também tem sua versão online. E essa visão tem muita razão de ser, já que quase todo o faturamento dos jornais vem do mundo dos átomos, do papel. Por enquanto.

Lembro do filme State of Play (Ligações Perigosas, de 2009) onde Russel Crowe faz o papel de um experiente jornalista e Rachel McAdams é a jovem jornalista da versão online do jornal. Os dois se juntam para investigar um caso que envolve Ben Affleck, um deputado amigo do Russel. Lembra?

A jornalista da internet publica tudo rapidinho, conforme recebe a informação. Mas neste caso, não. Numa cena, o velho jornalista agradece que ela não está soltando as notícias, enquanto não chegam ao final do caso complicado. E ela diz alguma coisa assim: essa matéria é muito importante, merece sair primeiro na edição impressa. Na cena do gran finale, ele acaba de escrever a matéria, aperta o botão do computador e as máquinas gigantescas começam a imprimir a matéria de capa com o nome dos dois – ela, orgulhosa, por ter sido promovida para o jornal de papel.



Essa é  realidade do mundo em que vivemos: jornal mesmo é o de papel. Todo mundo sabe que um dia ele vai virar digital de vez. Afinal não vai mais fazer sentido cortar árvores para fazer papel, ter aquelas máquinas gigantescas para imprimir, uma frota de caminhões gastando combustível e criando congestionamento, para o jornal chegar na banca da esquina. Quando você pode, como eu, receber tudo isso instantaneamente no seu iPad ou computador.

Mas, por enquanto, somos minoria e não geramos receita. E o pessoal dos jornais sabe lidar com essa logística cara e complicada, sabe vender anúncios impressos, sabe que tudo isso dificulta a entrada de novos competidores. Então, quanto mais atrasarem essa mudança, melhor para eles.

O que acontece no mundo? Nos países mais desenvolvidos os jornais pararam de crescer, as circulações estão diminuindo. As verbas de propaganda também tendem a cair cada vez mais. Jornais menores fecharam, jornalistas foram demitidos. Nos EUA, onde a mudança parece mais forte, já se tem uma visão clara de que o digital está substituindo o impresso. Então as empresas estão trabalhando sério no mundo dos bits.

Já nos países em desenvolvimento, a circulação dos jornais continua crescendo. Índia e Brasil são bons exemplos desse fenômeno, explicado pelo crescimento da classe média. As verbas de propaganda se mantêm, então tudo bem, nada de tentar um aventura precipitada.

Nestes dois mundos, a principal discussão é se devem ou não começar a cobrar pelo acesso à versão digital. A maioria das tentativas conhecidas não deram certo. Então cuidado, vamos deixar livre e grátis, manter o tráfego alto, divulgar a marca e tentar vender alguns anúncios.  Afinal, as pessoas estão acostumadas a ter acesso à informação grátis na internet. E olha que a competição é grande, do mundo inteiro.

E tem o New York Times que achou o caminho dos bits e conseguiu quase 350 mil assinantes digitais pagantes – o que representa, junto com os anúncios que também vieram, quase 30% do faturamento do grupo (quando não cobrava, o NYT declarou chegar  a ter de 1,5 milhão de leitores digitais). Aqui temos o Estadão, cobrando assinatura digital, mas não sabemos ainda o resultado.

O que pensa gente como eu, leitor digital, sobre o que vem por aí?

Os jornais ainda vivem no mundo dos bits, então reproduzem online o mesmo jornal que imprimem no papel. Estão usando uma nova mídia para reproduzir a velha mídia. Uma edição por dia, apenas um botão de últimas notícias para mostrar o que chegou depois. Alguns vídeos, entrevistas gravadas, para mostrar como sabem ser digitais.

No mundo digital você pode ter várias edições diárias, conforme chegam as novidades. Ainda pode personalizar a primeira página, de acordo com o gosto de cada um. As pessoas vão ser incentivadas a ver seu jornal mais de uma vez por dia. Ele vai ser uma coisa viva, que muda toda hora.

O jornal digital não tem problema de espaço. As matérias e entrevistas podem ser mais profundas. E a mesma entrevista/notícia pode ser escrita, gravada, filmada, com apresentação multimídia. Pode ter uma versão curta e outra maior, para quem quiser aprofundar. Pode ter outras informações anexadas, sobre o mesmo assunto, mesma pessoa. Pode ter links de referência, para quem quiser mesmo aprofundar. Pode até ter cenas ao vivo, que alguém está mandando na hora, até mesmo pelo celular. Conteúdo não vai ser problema, com tantas possibilidades.

Com a cultura do meio antigo, o jornal é meio de comunicação de uma via só: a gente escreve, você lê. Para realmente falar a linguagem do meio, o jornal digital tem que ser mais participativo. Não adianta mais aquela seção de cartas do leitor, lá no canto do jornal. O leitor  precisa de espaço maior, ao lado da matéria ou opinião, para completar, questionar, apoiar. Rapidinho, na hora, sem esperar dia seguinte porque alguém tem que aprovar. As pessoas na internet querem participar. Acho que quem está mais avançado nisso é o The Huffington Post, que foi criado direto para a internet, sem passar pelo papel. Pois o jornal do futuro vai, como o Huffington, misturar trabalho de jornalistas profissionais com as modestas linhas de pessoas como eu ou você. Vai se abrir para a riqueza da diversidade de opiniões.

Aí eles vão querer cobrar dos leitores, que ninguém trabalha de graça. Claro que sou a favor de se pagar por informação de qualidade. Mas aí entra o prestígio, confiança e imagem de marca que cada um construiu nos seus anos de vida. As pessoas vão pagar pelo jornal que confiam, desde que sejam preços de internet e não do jornal de papel. Desconta aí o custo de impressão e distribuição para chegar a um preço justo e digital. E pensem que, com a internet, vocês podem chegar onde a banca não chega, em qualquer lugar do mundo.

Quem não tiver uma marca forte, pode continuar oferecendo de graça e mesmo assim não vai ter muito leitores. Jornais novos têm que montar uma equipe de respeito, para superar a falta de história. Imagem e credibilidade é tudo –tanto no mundo dos átomos como no mundo dos bits.

E aí tem o formato digital, que todo mundo está aprendendo a fazer. Como o meio pede, tem que ser rápido e simples de navegar. Bonito, limpo, fácil para achar as coisas, fácil de participar. Versátil, para ser personalizado. Em suma, não tem que inventar.

(Não entendo jornais diários como o Estadão, que eu gosto de ler, que tem formato de baixar o conteúdo inteiro no iPad, o que demora. Quando a maioria dos grandes jornais baixa rapidamente os índices e, quando você clica, vem rapidamente a matéria.)

Em quanto tempo os jornais vão passar a ser digitais de verdade? Depende destes senhores que estão discutindo o futuro agora. Depende da evolução do negócio digital, em cada país. E depende de gente como eu e você, de como nós estamos abertos para a inovação.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

35- COM O IPAD NA MÃO, VOLTAMOS TODOS A SER BEBÊS.


Vá até o youtube e digite “iPad com bebês”. Aparecem centenas de vídeos com pequenos seres humanos que nem sabem falar,  mas já sabem pilotar um iPad que nem gente grande. Alguns, como dizem os vídeos, na frente de um iPad pela primeira vez.
É uma Impressionante sequência de provas engraçadíssimas de como a tecnologia do toque é instintiva e de fácil aprendizado. E fica claro para qualquer pessoa porque os tablets estão tomando conta do mundo. E tomando o lugar dos computadores.
Colei aqui embaixo dois exemplos bem engraçados. O primeiro é de um bebê que folheia uma revista num iPad. E se diverte com as mudanças de imagens. Depois colocam uma revista de papel na frente dele. E ele tenta, com os dedinhos, virar as páginas, ampliar as imagens. E fica decepcionado porque aquela coisa não funciona.


O segundo é mais sério, no sentido de que pretende ser mais científico. Um francês fazendo experiências com um bebê interagindo com o iPad. Mas também vale a pena ver como eles vão pegando rapidamente, na base de tentativa e erro, o jeito de como fazer aquela coisa funcionar e dar prazer – visual e auditivo. Uma grande diversão.


Olhar estes vídeos pode ser um bom aprendizado para os profissionais de editoras de revistas e jornais, livros, criadores de apps para tablets e outros envolvidos no desenvolvimento de peças para estas novas tecnologias. E que insistem em criar soluções complicadas – o que deve acontecer por causa de suas cabeças de engenheiros.
Pensem assim: com um tablet na mão, voltamos todos a ser bebês. E aí vão surgir as melhores soluções, cada vez mais simples. Que combinam com essa tecnologia que é, por princípio, intuitiva. Você vai tocando e as coisas vão acontecendo, num fluir bem fácil e natural. Se não acontece assim, alguma coisa está errada.

Tudo que envolve os negócios nos tablets tem que ser simples. E de acordo com os princípios da nova tecnologia. Mas, o mais comum, é trazerem para cá os vícios da tecnologia antiga, com soluções que serviam para a dimensão anterior. Isto é, continuamos a ser muito adultos e racionais, tentando fazer coisas que achamos inteligentes. E não aceitando a coisa simples, natural e intuitiva dos bebês. Ainda temos muito que aprender com eles, não é?

sábado, 8 de outubro de 2011

34- THINK DIFFERENT: COM A PALAVRA, STEVE JOBS.


Este blog tem muito a ver com esse cara.  Afinal, todo dia a gente discute aqui conceitos de produtos que sairam da cabeça dele. E que estão mudando o mundo, mudando nossa vida, mudando o  formato dos negócios, mudando a nossa relação com a tecnologia.

Mesmo que a equipe da Apple não mantenha o mesmo pique, não tem mais volta. O século 21 está sendo diferente por causa das coisas que eles criaram. Ou reinventaram. Em cima de alguns conceitos básicos que todo mundo devia seguir.

Como a simplicidade, ligada à acessibilidade – que faz coisas que até uma criança sabe pilotar, instintivamente. O perfeccionismo com forma e conteúdo – tudo muito bonito e elegante, por dentro e por fora, tudo funcionando direitinho. O que faz a gente redefinir que tecnologia boa é a tecnologia que todo mundo gosta e pode usar.

Ainda misturaram hardware e software com conteúdo e canais de distribuição. E revolucionaram os negócios de produção/venda/distribuição de música, livros, filmes, jornais, revistas, educação, e por aí vai. E esta revolução está só começando. Todo dia afeta uma nova atividade que parecia definitiva.

Por tudo isso, não poderia deixar de falar do Steve Jobs aqui, apesar das milhares de homenagens pelo mundo afora. Resolvi selecionar algumas das frases, que foram distribuídas por jornais e revistas. Que podem incentivar mais gente a ser como ele:

- Não há motivo para não se seguir o coração… Nunca deixe de ter fome. Nunca deixe de ser insensato.
- Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não se deixe aprisionar pelo dogma – que é viver segundo os resultados dos pensamentos de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros sufocar sua própria voz interior.
- Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço de evitar a armadilha de achar que você tem algo a perder.
- Você não pode ligar os pontos olhando para a frente, você só pode fazer isso olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos irão se conectar de alguma forma no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, karma, seja o que for. Esse modo de encarar as coisas nunca me deixou na mão e fez toda a diferença na minha vida.

Na maioria dos vocabulários das pessoas, design significa superfície. É decoração de interiores. É o tecido da cortina e do sofá. Mas, para mim, nada pode estar mais distante do significado de design. Design é a alma fundamental de uma criação humana que acaba se expressando em sucessivas camadas externas do produto ou do serviço.
- Simples pode ser mais difícil que complexo. Você tem que trabalhar muito para chegar a um pensamento claro e fazer o simples.
- É mais divertido ser um pirata do que se juntar à Marinha.
- Picasso dizia que ‘bons artistas copiam e grandes artistas roubam’. E eu nunca tive vergonha de roubar grandes idéias. Acho que parte do que fez a Macintosh grande foi que as pessoas trabalhando aqui eram músicos e poetas e artistas e zoólogos e historiadores, que por acaso eram também os melhores cientistas de computação do mundo.
- A morte é, provavelmente, a melhor invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Tira o velho do caminho para dar lugar para o novo.

Então, Steve, que venha o novo.



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

33- JORNALISMO CIDADÃO: SE A GRANDE MÍDIA NÃO DÁ BOLA PARA O QUE VOCÊ ACHA IMPORTANTE, CRIE SUA PRÓPRIA MÍDIA.


Estou envolvido num projeto que considero importante, já que vai definir como vai ser o Brasil que vamos deixar para os nossos netos: um país moderno, baseado na sustentabilidade, ou um país antigo, destruidor de suas reservas naturais em nome do pequeno benefício imediato.

Estou falando do novo Código Florestal Brasileiro. Resumindo: temos hoje um Código decente, que tem como princípio defender nossas florestas. Mas ele não é respeitado. Resolveram então modernizá-lo. O primeiro tempo deste jogo aconteceu na Câmara dos Deputados, onde um projeto de lei ruim (que retira várias proteções que as florestas já tinham) passou rapidinho e sem debate – e foi aprovado por 80% dos deputados que nem sabiam no que estavam votando. Enquanto isso, pesquisa Datafolha dizia que 80% dos brasileiros eram contra esse projeto de lei, aprovado por eles.


O segundo tempo se desenrola no Senado Federal. Eles podem, também, aprovar o mesmo projeto. Podem fazer modificações. Ou podem até criar um projeto totalmente novo e melhor para o futuro do Brasil.

(Estamos neste momento. O resultado do que sair do Senado volta para a Câmara dos Deputados – que aprova ou rejeita, ou pode até voltar ao projeto ruim que saiu dali. Depois vai para aprovação ou veto da Presidência da República.)

Aí foi criado o Comitê em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que reúne quase uma centena de organizações da nossa sociedade civil (CNBB, OAB, ABI, CUT, entidades ambientais, etc.), para lutar a favor de um novo Código Florestal que nos dê orgulho de ser brasileiros. E fui convidado para criar a comunicação do movimento.

Como nossa base é a internet (não temos verba para a grande mídia), criamos uma campanha essencialmente participativa e interativa – como gosta a internet. Com o tema geral FLORESTA FAZ A DIFERENÇA, criamos uma série de posters alltype (com o Diretor de Arte Cleuber Alias) e sugerimos que as pessoas se fotografassem com eles, completando o anúncio. Que divulgassem as fotos nas redes sociais com a hashtag #florestafazadiferenca e também nos enviassem para divulgação em nosso site (parceria digital de João Ramirez).


Site no ar, campanha se espalhando pelas redes sociais, abaixo-assinado online, gente participando. Aí chegou a hora da primeira comissão do Senado entrar em ação (CCJ). Precisávamos que o Código Florestal fosse discutido publicamente, para conseguir mais apoio para apoiar/pressionar os senadores. Mas, apesar do assunto ser tão importante para nós, para o futuro do país, a grande mídia não se interessou.

Resolvemos criar nossa própria mídia: um canal de TV na internet, 24 horas no ar por 3 dias, com ambientalistas, cientistas, juristas, discutindo o assunto. O resultado está numa matéria que saiu hoje no Estadão: Vigília virtual pelas florestas reúne 40 milhões de pessoas. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,vigilia-virtual-pelas-florestas-reune-40-milhoes-de-pessoas--,776290,0.htm

O projeto ainda vai passar por mais 3 comissões no Senado. Vamos repetir nossa ação na internet, para acompanhar o trabalho em cada uma delas: um dia antes, discutindo o assunto, e no dia da votação, comentando o que está acontecendo para as pessoas que não estão informadas dos detalhes. O pessoal gostou da experiência.

Também criamos (junto com o Percival Caropreso e o Fernando Meireles, com participação da Gisela Moreau e da Marussia Whately) uma série de vídeos com depoimentos de diversas pessoas famosas, que aderiram espontaneamente ao movimento - que logo começarão a ser exibidos na internet e nas TVs que toparem veicular gratuitamente. Precisamos criar pressão no Senado.

Essa história real, que está acontecendo agora, serve para ilustrar o que chamo de Jornalismo Cidadão, uma ação que acredito que vai acontecer cada vez mais. Primeiro, porque tem assuntos que interessam a grupos de pessoas, mas que não interessam para a grande mídia. Nem para as TVs privadas, nem para as TVs públicas – estas sim, deveriam obrigatoriamente se interessar por este tipo de assunto, mas ainda não existe clareza no Brasil do que significa ou o que deve fazer uma TV pública de verdade.

Segundo, porque a tecnologia cada vez mais desenvolvida de TV na internet torna essa ação cada vez mais acessível. Quem assistiu nossa TV ao vivo na internet, pôde ver entradas ao vivo de Brasília ou até das ruas de São Paulo. Isso foi possível graças a um equipamento leve, que cabe numa mochila (tecnologia israelense) que usa 6 chips 3G comuns, de telefone celular, junta o sinal deles num só, com velocidade de 2GB, e coloca na internet a imagem de uma câmera portátil. Com boa qualidade. Ano que vem este equipamento vai ter menos de um palmo de tamanho, para ser preso na cintura.

Com coisas assim, grupos que quiserem ser ouvidos vão montar suas próprias TVs na internet, a custos baixos. Temporariamente, como estamos fazendo, ou até uma TV pra todo dia. O resultado disso deve ser a segmentação cada vez maior da mídia. Ou pode até mesmo acontecer que as grandes TVs acordem para o fato e ocupem este espaço cidadão, para evitar a concorrência-guerrilha. E não vai demorar muito tempo não.



(Se você está lendo este blog ainda em setembro ou outubro, é brasileiro e se preocupa com o futuro do país, participe da campanha. Divulgue para os amigos. Procure nosso abaixo-assinado online em www.florestafazadiferenca.org.br. Obrigado.)