domingo, 3 de abril de 2011

22- QUANTO VOCÊ TOPA PAGAR POR UM JORNAL DIGITAL?

A internet nasceu para democratizar o conhecimento e a troca de informações, certo? Então nada mais democrático do que colocar o mesmo preço em tudo: grátis. Foi assim que as pessoas foram se acostumando com música grátis, filmes grátis, revistas grátis, jornais grátis. Tudo grátis. Para desespero dos produtores de informação.

Depois de uma grande sacudida nos negócios envolvidos, várias brigas na justiça, grandes discussões sobre direitos autorais, as coisas vão se acomodando aos poucos. Empresas, tecnologia e consumidores vão chegando a um acordo.

Música grátis, por exemplo, virou música paga por um preço mais justo -e o iTunes, com a ajuda do iPod, virou a maior loja de músicas do planeta. As gravadoras e músicos aprenderam a viver no novo cenário e o negócio evolui nesse caminho.

(Ainda tem gente que continua buscando o grátis na pirataria, principalmente nos países como o nosso, em que as novas regras ainda não foram absorvidas. Mas ficou a lição: quando o preço é considerado decente, pelo consumidor, diminui bastante a procura de formas de contornar a lei.)

Pois esta semana marcou o começo de mais um capítulo na novela da busca de um novo caminho, no modelo de negócio dos jornais digitais. O New York Times, nos EUA, e o Estadão, aqui em São Paulo, começaram a cobrar acesso de seus leitores às suas versões do jornal na internet e no iPad -por extensão, para os outros tablets que vêm por aí.

Para o NYT não é novidade, ele já tentou cobrar acesso na internet outras vezes e não deu certo, voltou atrás. Agora ele tenta de novo -quando declara ter nada menos que 1 milhão e meio de leitores no iPad (lançado há um ano) e 30 milhões no seu site, com acesso grátis. Números inimagináveis para um jornal brasileiro. Quantos vai perder com o novo pedágio?

(A nova assinatura é complicada: custa US$ 15 ao mês para ter acesso ilimitado ao conteúdo na internet via computadores e celulares, US$ 20 para acessar de computadores e do iPad, US$ 35 de qualquer dispositivo. Mas para não correr muito risco, o NYT deixa liberada a leitura grátis de até 20 artigos por mês. Também libera a leitura para quem vier de indicações das redes sociais Twitter e Facebook, ou através de busca no Google.)

Outra referência de preço no mercado americano é o The Daily, jornal criado pelo mega empresário das comunicações Murdoch, especialmente para o iPad, e que é vendido a US$ 0,99 por semana ou US$ 40 por ano (não estou comparando conteúdos). Não temos informação de quanto está vendendo.

Já no Brasil, não sabemos quantos leitores digitais o Estadão tem. Já cobrava R$ 29,90 ao mês, por acesso ilimitado na internet, mas deixava grande parte das notícias com acesso grátis -e não cobrava nada no iPad. Agora estendeu a assinatura digital na loja do próprio Estadão, por R$ 29,90 ao mês, para o iPad -e vende exemplares avulsos na Appstore (loja da Apple) por US$ 1,99 (em dólar mesmo).

Seu maior competidor, a Folha, também deixa grande parte do conteúdo com acesso grátis na internet (ilimitado só para assinantes do UOL ou da Folha de papel) e continua com a versão para iPad grátis.

Se vai dar certo? Não sei. Não sou a favor da informação grátis para tudo. Afinal, tem empresas e profissionais que escrevem e produzem os jornais. Vivem disso e merecem todo o nosso respeito.  E nós precisamos de qualidade de informação no dia a dia.

Mas sou a favor de preços justos, já que para fazer um jornal digital não é necessário grandes impressoras, toneladas de papel, frota de caminhões para distribuir, gasolina, etc. Jornal digital tem apenas o custo da equipe e da tecnologia, o que é muito mais barato. E isso deveria se refletir no preço que querem cobrar pelos jornais digitais. Se o Estadão custa R$ 3,00 na banca, quanto deveria custar no iPad?

Preço bom é aquele que os consumidores consideram justo. É como fazer um acordo entre quem vende e quem compra. A internet vai buscando seu modelo de negócio na música, nos jornais e revistas, nos livros, nos filmes. Mas, como um meio democrático que é,  sempre com a participação ativa dos consumidores. Que fazem a coisa dar certo ou não. Quanto você topa pagar por um jornal digital? Por uma música? Por um livro digital? Pelo aluguel de um filme?



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