No dia do lançamento oficial do iPad no Brasil, teve fila na madrugada para comprar a novidade pelo dobro do preço dos EUA. Foto do primeiro comprador na primeira página de sites e jornais. E festa online das semanais para receber o novo leitor tecnológico.
A Veja puxou o bloco, com todos os fogos de artifício que tinha direito: anúncios interativos, botões que abriam gráficos, fotos 3D, a foto 360 das máquinas do Wikileaks na Bat caverna, a Gisele de corpo inteiro, filminhos. Tudo grátis. Mostraram que dominavam todos os efeitos possíveis na nova plataforma tablet.
Semana seguinte tudo voltou ao normal. As semanais, acompanhando as irmãs internacionais, são vendidas na versão iPad, até em dólares. A revista Time também é assim, The Economist também é assim. Mas comprar uma Economist aqui no iPad, quase pelo preço de banca lá, sai bem mais barato do que comprar na banca aqui, onde custa mais que o dobro.
Estamos assim: Veja e Época têm suas versões iPad. Carta Capital e Isto É continuam só com o site na internet. Algumas coisas abertas para todos, versão integral para assinantes do papel. Algumas vendem a assinatura digital.
O que interessa para nós aqui é a decisão de todas elas de entrar na linha Murdoch de cobrar e cobrar bem. E não achei nenhum exemplo internacional importante que faz o contrário, como o jornal The New York Times. Então para o leitor ficou assim: demos um gostinho no lançamento, mostramos que dominamos a tecnologia. Agora tem que pagar.
A Veja anunciou que tinha 2.500 leitores no iPad (assinantes do papel que têm direito ao digital também? ou assinantes do iPad mesmo?) antes do lançamento oficial. Com a edição grátis pulou para 15 mil. Só falta a informação de como ficou quando voltou a cobrar.
Eu até entendo a posição da número 1 de jogar duro, somada com o temor: se a gente oferece agora de graça, como vamos cobrar depois? O que não entendo é porque a número 2 ou número 3 fazem a mesma coisa. Não era a hora de aumentar o período gratuito e tentar novas experiências? Não conseguiríamos anunciantes dispostos a bancar essa edição para reforçar a imagem de tecnologia na sua marca? Já que temos menos a perder (se é que temos), vamos começar aqui a trabalhar a revista digital do futuro. Hora de criar e experimentar. Hora de ousar para quem não está na liderança de vendas.
Também acho que vale aqui uma discussão importante. Qual o peso do hábito na mídia escrita? Existem pesquisas sobre isso? Algum estudo importante?
A gente sabe que na TV hábito é fundamental. Não se consegue audiência com programas isolados. Mas com uma grade de programação fixa, baseada em programas que se repetem todo dia. Daí a força das telenovelas. Elas fazem todo mundo ligar a TV no mesmo canal diariamente, no mesmo horário, para saber quem matou o Saulo. E tudo muito bem acompanhado de pesquisas. A Clara boazinha está baixando o interesse, bota em campo a Clara diabólica que o Ibope sobe.
Na minha experiência pessoal era assim: todo fim de semana comprava pelo menos duas semanais. A Veja, só porque todo mundo lia, e a Carta Capital que tinha bons artigos –até que o pessoal ficou mais PT que o próprio Lula e a revista ficou muito chata com tanta propaganda política. Às vezes comprava a Época ou Isto É, dependendo da capa ou de uma matéria especial.
Como é agora: depois que implantei a experiência de tudo grátis, lei básica da internet, deixei de comprar semanais. E não senti nenhuma falta delas. Leio mais jornais, revistas estrangeiras, e até me sinto mais informado. Será que um dia vou voltar a comprar a Veja? A dependência está indo embora.
Mais uma coisinha pras semanais. As estrangeiras deixam aberto, para não assinantes, algumas matérias que dão o gostinho das revistas –a Escolha dos Editores. Que eu sempre dou uma olhada, tem matérias boas ali porque o objetivo é vender a revista. As nacionais deixam aberto Últimas Notícias, que não passa nada do que é a revista e geralmente são as mesmas que também estão nos sites noticiosos e nos jornais na internet. Não é bom rever esta decisão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário