sábado, 25 de dezembro de 2010

9- ELEIÇÕES 2010: TECNOLOGIA NOTA 5.

Não pretendo escrever aqui só sobre o iPad e sua relação com a mídia impressa. É que os tablets são a grande novidade que a tecnologia nos trouxe em 2010.  E como jornais e revistas  estão em cima do muro, sem saber direito como encarar essa e outras mudanças que vão ter pela frente, é um prato cheio para quem quer discutir o assunto. Vou continuar a série tablets, que deixa bem claro (mais ainda que a internet no computador) os caminhos que a tecnologia abre para o mundo da comunicação. Mas vou falar de outros assuntos também.

No balanço de 2010, não posso deixar de falar do uso da internet na campanha eleitoral que acabamos de viver. Que todo mundo do meio apostava que seria a campanha eleitoral da internet no Brasil, como foi a campanha do Obama nos EUA.

Acabou sendo a mesma internet de sempre: sites mal desenhados e poluídos (cheios de informações que não interessam ao eleitor), tentativas de interação não completadas (seções tipo participe da campanha, sem uma organização de ações  realmente planejada), muita ação receptiva (estamos aqui, nosso candidato é o bom, você que nos procure), poucas tentativas de realmente procurar e conversar com o eleitor (muito poucas ações realmente profissionais em redes sociais).

Por isso ficou fácil criticar. Todo mundo desceu a lenha dizendo que a internet ainda é elitista, que atinge muito pouca gente no Brasil, por isso não teve tanta importância na eleição. Nada disso. Quem acredita que internet é elitista não tem visto os números do crescimento desta mídia no país. Se você incluir os celulares, a ação das pessoas nas redes sociais via internet móvel, aí então esse número cresce bastante mesmo. Leia a coluna do meu amigo Ethevaldo Siqueira no Estadão ou o seu blog– ele vive atualizando estes números.

O que aconteceu realmente é que nenhuma campanha foi profissional o bastante para aproveitar a internet em todo seu potencial. E punto finale. Quem melhor trabalhou a internet, na minha opinião, foi a campanha da Marina. Talvez porque precisasse mais, por causa do pouco tempo na TV. Talvez porque tinha um profissional do meio, encabeçando a tarefa. Resultado é que ela cresceu e virou fenômeno eleitoral baseada na internet. Parabéns para a equipe da Marina que leva nota 7 –ainda não fez tudo o que podia.

Mas, deixando a análise técnica de lado (que não é o meu forte), o que interessa mesmo é que a grande maioria dos políticos se acha tão importante e tão popular (temos vários exemplos, não é?) que se bastam a si mesmos. Não dão a menor importância para uma assessoria de comunicação profissional e permanente. Aí chega na véspera da eleição e contratam um marqueteiro que tem que fazer milagres, já que ninguém muda a imagem de uma pessoa em dois ou três meses. (não estou aqui livrando a cara de quem não fez boa campanha).

Também ainda não entenderam que o mais importante de tudo é defender uma causa, um conjunto de idéias, que motive seus eleitores. Isso é ser um líder: ter idéias próprias e lutar por elas. O resto, TV ou internet, é apenas a forma de comunicar essas idéias.

Aí vão enfrentar uma máquina de comunicação ambulante que é o Lula, que faz campanha eleitoral as 24 horas de todo os dias de sua vida. E que tem uma causa forte, goste você ou não. Que tem carisma. E que ainda mantém um grupo de profissionais trabalhando sua comunicação permanentemente. Que começou a fazer campanha eleitoral oito anos atrás, sem nenhuma oposição para rebater.  Que resultado você esperava? 

O Obama começou seu trabalho na internet dois anos antes das eleições, pelo que eu soube. Uma ação interativa programada depende de um banco de dados que demora algum tempo pra ser montado e operacionalizado. Aí você começa a agir para organizar as informações, segmentar, entender quem são aquelas pessoas listadas ali. Começa então a arregimentar quem vai participar mesmo, distribuir tarefas diferentes para cada grupo. Para quando chegar perto da eleição você estar em ponto de bala.

Isso é o que a internet pode fazer de mais importante numa eleição. Mobilizar pessoas para trabalhar ao seu lado na campanha, em todo o país, alimentando este exército voluntário de informações, distribuindo prêmios emocionais para quem participa. Isso é o que o Obama fez e que foi tão inovador que ganhou prêmios como case de comunicação em todo o mundo.

Usar  internet apenas como veículo de comunicação (e não de interação) é só fazer metade do trabalho. Por isso dei nota 5, que já foi bom demais em muitos casos. Não basta só manter um twitter para se mostrar político moderninho. Tem que ter mais abertura para reconhecer a importância de um trabalho profissional de comunicação continuado. Pensando na próxima eleição. Que está logo ali.

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