terça-feira, 21 de dezembro de 2010

7- QUEM APOSTA NA INTERNET?

A lógica da internet é inexorável. O preço ideal é grátis. Mas aceita-se o que for bem baratinho. Porque o que interessa mesmo na web é a audiência, o modelo de negócio vem como conseqüência. Quando você tem bastante gente no seu pedaço, conseguir anunciantes ou investidores fica muito mais fácil, não é mesmo? Estão aí os Facebooks da vida para provar a tese. Veja o filme, leia o livro.

Vai falar isso para um homem de negócios da velha economia. Para gente que passou a vida construindo seu negócio com impressoras gigantes e frotas de caminhões para distribuir jornais. Papel é papel, é coisa palpável. Vende ali na esquina. Internet é uma coisa fluida, você paga pra ver mais adiante. E se o retorno não vier?

Pior que isso, devem estar enxergando o jornal digital como o assassino de seu jornal de papel. A revista no iPad tirando assinantes da tradicional e segura versão de papel. Mas pode chamar um analista para ajudar a espantar seus temores, porque o caminho cada vez mais é esse. Basta ler os jornais deles mesmos.

Hoje eu li na Folha (digital, é claro) que pela primeira vez na história os anunciantes nos EUA vão gastar mais com propaganda na internet do que com anúncios em jornais impressos. Acha que demorou muito? Quem fala é a empresa eMarketer. Publicidade on-line cresceu 14% em 2010, para US$ 25,8 bilhões, enquanto anúncios em jornais impressos caiu 8,2%, para US$ 22,8 bilhões. Para o ano que vem, dizem, este movimento (queda do átomo, subida dos bits) deve continuar, conforme os consumidores migram para a internet.

Quer um dado aqui do Brasil desta migração? O aplicativo da Folha para iPad, há pouco mais de um mês no mercado, já foi baixado por quase 30 mil aparelhos. Depois que o aparelho passou a ser vendido oficialmente (no fim de novembro) no Brasil, o número de downloads mais que dobrou. É o app de jornal mais baixado do país, segundo o ranking da Apple Store.

Cerca de 55 mil pessoas já fizeram o download (em cima é 30, aqui é 55, estou reproduzindo a notícia da Folha) e estão acessando a íntegra do jornal gratuitamente, por um período de degustação. E com isso a Folha também está sendo mais lida nos Estados Unidos, Argentina, Portugal e Reino Unido. Acabou a barreira geográfica.

Palmas para a Folha. O aplicativo dela, como já falamos, é melhor e mais prático que o dos concorrentes. É uma verdadeira versão da Folha para o iPad. Estadão e o Globo teimam em manter a foto do jornal de papel o que torna a leitura mais difícil e demora um tempão de download toda vez que você muda de página.

Mas será só esta a razão da preferência da Folha no iPad? Afinal os 3 estão oferecendo a leitura integral grátis. O fator preço está de fora. Pode ter também uma  dose de fidelidade de marca e  hábito? Eu, como usuário, prefiro a Folha pelo aplicativo. Acho muito chato ler os outros jornais no iPad.

Outra notícia. Lembra que falei que se os jornais tradicionais bobeassem corriam o risco de perder o bonde da história? Exemplifiquei com o The New York Times, que é grátis e tem a melhor versão para iPad que conheço e que poderia começar a ter muitos leitores no Brasil e outros países e começar a fazer versões multi-língua. Também falei do jornal Daily, que deve ser o primeiro jornal feito especialmente para o iPad e que o Murdoch promete para Janeiro, por US$ 0,99 por semana (preço de internet).

Hoje saiu no Meio&Mensagem: um grupo de jornalistas brasileiros promete, também para janeiro, um diário feito especialmente para iPad. Garantem que seu compromisso será com conteúdo gratuito e qualidade. E já têm um grande investidor. Que venha a concorrência para fazer as pessoas se mexerem mais rápido.

A pergunta que fica é o que a Folha vai fazer com essa preferência dos leitores no iPad?  Continuar com o jornal grátis e buscar recursos na propaganda, como faz o New York Times? Começar a cobrar dos leitores e arriscar a liderança? Não percam nosso próximo capítulo neste mesmo Batcanal.

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